O aumento da cota de mercado do transporte público é muito lento não só no Brasil, mas no mundo todo. O pior que podemos fazer é tornar o debate puramente tecnológico.No final do século 19, a humanidade se locomovia com cavalos. O tema das discussões era como lidar com o estrume de cavalos nas cidades. Em 1910, toda a mobilidade se fazia com automóveis.
Mariana Branco
Repórter da Agência Brasil
foto - ilustração/arquivo |
O secretário de Estado adjunto e do Ambiente de Portugal, José Mendes, defendeu que a discussão não pode ficar restrita à tecnologia. “O aumento da cota de mercado do transporte público é muito lento não só no Brasil, mas no mundo todo. O pior que podemos fazer é tornar o debate puramente tecnológico. Temos que fazer um trabalho de conhecimento e envolver as pessoas”, disse.
Mendes afirmou que a mudança de paradigma nos transportes, com redução do uso de veículos individuais, é um objetivo possível. “Acredito muito no gênero humano e na capacidade de fazer modificações. No final do século 19, a humanidade se locomovia com cavalos. O tema das discussões era como lidar com o estrume de cavalos nas cidades. Em 1910, toda a mobilidade se fazia com automóveis. Tudo se alterou em apenas dez anos”, lembrou.
Ele disse que as ações adotadas por Portugal para alcançar as metas de redução de emissões do Acordo de Paris envolvem iniciativas a curto e a longo prazo. “Nas democracias temos ciclos de avaliação, ciclos eleitorais. É muito difícil captar o apoio público para objetivos de longo prazo. Temos sempre que ter uma combinação de metas de longo prazo e quick wins (ações de curto prazo).”
De acordo com o representante de Portugal, o país tem investido, de um lado, em iniciativas de resultado mais rápido, como a extensão das redes de metrô de Lisboa e do Porto e incentivos fiscais para quem quiser dividir o uso de carros e bicicletas e, do outro, em ações a longo prazo como a adoção de ônibus e carros elétricos, embrionárias e ainda com poucas unidades.
Mendes foi articulador da Aliança para Descarbonização do Transporte, lançada durante a COP 23, a mais recente Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, realizada em novembro na cidade de Bonn, na Alemanha. A aliança, que inclui ainda França, Holanda e Costa Rica, deve servir para troca de experiências e facilitação do diálogo. Espera-se que mais países a integrem no futuro.
Desigualdade social
O envolvimento dos cidadãos no diálogo sobre mudança nos hábitos de locomoção também foi defendido pela ex-prefeita de Santiago Carolina Tohá, atualmente copresidente do Grupo Consultivo de Alto Nível em Transportes Sustentáveis da Secretaria-Geral das Nações Unidas.
Ela detalhou a implementação de um plano de transportes para Santiago durante sua gestão como prefeita, excluindo os veículos individuais e priorizando o transporte público e os pedestres no centro da cidade. Segundo Carolina, o diálogo com moradores, comerciantes e com instâncias como o Conselho de Monumentos e o Serviço de Deficientes da cidade foi essencial para o programa.
A ex-prefeita de Santiago destacou o papel da desigualdade social na questão da mobilidade urbana. “Quem mais caminha e usa o transporte público é pessoa de baixa renda. O meio de transporte no qual se investe significa priorizar determinada classe social”, disse ela, que defendeu “substituir o sonho de ter um carro” por outro sonho, que envolva a multimodalidade dos transportes.
O Encontro sobre Descarbonização do Transporte está sendo realizado hoje durante todo o dia. O evento é organizado pelo Instituto Clima e Sociedade (ICS), o Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema) e a Embaixada da Alemanha. Durante a tarde, serão discutidas propostas para descarbonizar o transporte brasileiro e as tendências tecnológicas e inovações na área.
Fonte - Agência Brasil 06/12/2017
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