quinta-feira, 30 de março de 2023

Menos da metade das capitais brasileiras têm metrô; o de BH é o 2º menor

Transportes sobre trilhos  🚇

Capital mineira só não tem sistema metroviário menor que o de Teresina, no Piuaí. Sonho antigo de Belo Horizonte e no papel há pelo menos duas décadas, a expansão do metrô da capital mineira pode elevar a malha da cidade da 11ª para a quinta posição no ranking das 12 capitais brasileiras que possuem sistema metroviário. 

O Tempo
foto - ilustração/arquivo
A promessa da linha dois do metrô de Belo Horizonte ganhou, nesta sexta-feira (24), um novo capítulo, com a assinatura da concessão do sistema, oficializada pelo governador Romeu Zema (Novo). Sonho antigo de Belo Horizonte e no papel há pelo menos duas décadas, a expansão do metrô da capital mineira pode elevar a malha da cidade da 11ª para a quinta posição no ranking das 12 capitais brasileiras que possuem sistema metroviário. Hoje, a linha de metrô de BH, com 28,1 km, só é maior que a de Teresina, no Piauí, que tem 13,5 km. Mas a quantidade de passageiros que utilizam a linha na capital mineira diariamente, cerca de 100 mil pessoas, é 20 vezes maior que a da cidade nordestina. O projeto de construção da linha dois do metrô belo-horizontino, que levará até o Barreiro, aumenta a linha em 10,5 km, totalizando 38,6 km de malha. Confira o ranking do tamanho atual do metrô das capitais brasileiras: Por que não há metrô em todas as capitais do Brasil? Hoje, 12 das 27 capitais brasileiras, contando com Brasília, têm sistema metroviário, seja metrô subterrâneo, como São Paulo, ou veículos leves sobre trilhos (VLT). O número é resultado de um histórico de abandono do modal, avalia o presidente do conselho administrativo da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), Joubert Flores. “Estamos muito aquém do que precisamos e isso é fruto de uma política equivocada de 60 anos atrás. Até os anos 60, tínhamos 800 km de bondes nas cidades, que tinham muito menos gente do que hoje. A indústria rodoviária abriu rodovias e isso foi ótimo, mas, na época, achou-se que poderia se erradicar o trem com isso, na contramão do mundo”, diz. O metrô é relativamente jovem no Brasil, comparado a outras cidades pelo mundo. A primeira linha brasileira começou a operar em 1974, em São Paulo — em Belo Horizonte, a inauguração do metrô foi em 1986. A da vizinha Argentina foi inaugurada mais de meio século antes, em 1913. O metrô mais antigo do mundo, o de Londres, começou a circular em 1983. O professor de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Roberto Andrés lembra que cada capital tem cenários e demandas diferentes, mas defende que o metrô é necessário naquelas que passam de um milhão de habitantes — caso de 14 delas. Ele reafirma a importância de levar o metrô de Belo Horizonte até o Barreiro, mas destaca que essa não é a única solução de mobilidade de que a cidade precisa. “Outra coisa que melhora é uma cidade descentralizada, desenvolvendo Venda Nova e Barreiro, por exemplo, para que as pessoas não precisem se deslocar para a região central. E precisamos de melhoria dos ônibus, mais corredores exclusivos, e ciclovias”, sublinha. Subsídios populares no metrô de outros países são desafio no Brasil Além da expansão das linhas de metrô, falta subsídio para a passagem no Brasil, avaliam especialistas. O presidente da ANPTrilhos lembra que, em Paris, por exemplo, as empresas são obrigadas a pagar uma taxa ao governo a fim de sustentar parte do valor da passagem — assim, os passageiros pagam somente uma porcentagem do bilhete. “Temos que criar fontes de financiamento no Brasil para permitir que a pessoa viaje em dois, três modais, sem precisa pagar o preço integral da passagem. O Brasil não pratica isso, à excessão de São Paulo”, diz. O professor Roberto Andrés também sustenta a ideia, porém chama atenção para o fato de que em Paris, por exemplo, é uma empresa pública que administra o metrô. Nas mãos de empresas privadas no Brasil — como, agora, é o caso de Belo Horizonte — ele diz que subsídios podem formar uma “caixa preta” das finanças, sem que a população entenda de fato como o dinheiro arrecadado pela empresa está sendo gasto. “O subsídio tem que ser feito com o controle sobre para o que está sendo usado. Em muitos países que são referência, as empresas são públicas e não há uma contabilidade escondida”, conclui. 
O Tempo
Fonte - ANPTrilhos 224/03/2023

domingo, 26 de março de 2023

Jardins filtrantes despoluem águas de riacho que desagua no Capibaribe

Ecologia & Meio Ambiente  🌱🌴

A tecnologia sustentável usa plantas aquáticas nativas e tanques de pedras para filtragem de aproximadamente 360 mil litros de água por dia. Ao todo, a obra ocupa 7 mil metros quadrados (m²), em um trecho deste afluente do Capibaribe, que corta o Parque do Caiara, na Iputinga, Zona Oeste da capital pernambucana. 

Daniella Almeida
Repórter da Agência Brasil
foto - Giselle Cahú Aries/CITinova
As águas do riacho do Cavouco, que nascem dentro da Universidade Federal de Pernambuco e desaguam no rio Capibaribe, no Recife (PE), estão sendo despoluídas por jardins filtrantes. A tecnologia sustentável usa plantas aquáticas nativas e tanques de pedras para filtragem de aproximadamente 360 mil litros de água por dia. Ao todo, a obra ocupa 7 mil metros quadrados (m²), em um trecho deste afluente do Capibaribe, que corta o Parque do Caiara, na Iputinga, Zona Oeste da capital pernambucana. O projeto dos jardins filtrantes foi implantado pela Agência Recife para Inovação e Estratégia (Aries), uma organização social de inovação, sem fins lucrativos. A execução foi possível devido à cooperação internacional com a CITInova, coordenada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). A pasta trabalha para que o modelo dos jardins filtrantes seja reproduzido em outras cidades brasileiras. O custo da ação foi de U$$ 1,4 milhão, aproximadamente R$ 7 milhões, financiados pelo Fundo Global para o Meio Ambiente para (GEF, na sigla em inglês) mantido com doações de países industrializados e apoiado pela Organização das Nações Unidas (ONU). A diretora da Agência Aries e coordenadora dos projetos do CITInova no Recife, a arquiteta e urbanista Mariana Pontes falou sobre essa parceria em entrevista à Agência Brasil. “Foi muito importante ter o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação com a gente para testar tecnologias novas e manter o foco na inovação, sabendo que as cidades precisam de inovação. É muito dinâmico. A troca entre os parceiros do CITInova também foi muito positiva, como com o Distrito Federal, que tinha experiência em gestão ambiental”.
No próximo dia 31, a prefeitura do Recife – que trabalhou em parceria com a Aries neste projeto-piloto – vai assumir a operação total dos jardins filtrantes do Parque do Caiara. A Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb) fará a manutenção da filtragem e do paisagismo dos jardins. “Estamos ensinando a operação do sistema para que a prefeitura dê continuidade e para que o parque tenha sobrevida após o encerramento da nossa participação no projeto-piloto”, prevê Mariana Pontes. A secretária Municipal de Infraestrutura do Recife, Marília Dantas, cita os ganhos da iniciativa que despolui o riacho. “Não há geração de lodo, nem uso de produtos químicos, e é baixo o consumo de energia [elétrica] e carbono positivo”. A prefeitura vai estudar o caso para avaliar a ampliação do projeto na cidade. Por ora, a Emlurb já investiu R$ 500 mil na instalação de iluminação pública no local para atrair os visitantes ao parque público. Marília Dantas exalta os jardins filtrantes que, segundo ela, também têm efeito pedagógico para população. “A prefeitura entende que a implantação desse sistema traz uma mensagem de conscientização ambiental porque, se bem mantido, provoca uma relação maior das pessoas com a natureza. Entende-se que é levada essa mensagem de cuidado com o meio ambiente”.


foto - Giselle Cahú Aries/CITinova
A tecnologia
As obras dos jardins filtrantes tiveram início em 2022, e o sistema começou a operar, de fato, em fevereiro deste ano. A implantação total do projeto está prevista para abril, com a capacidade de filtragem mantida em cerca de 360 mil litros de água/dia. A tecnologia usada no projeto é baseada em recursos naturais, com uso basicamente de pedras, areia e plantas aquáticas, por onde fluem as águas. A absorção dos nutrientes pelas raízes dos vegetais, associada à passagem da água suja por cinco tanques de pedras, com diferentes substratos, resulta na remoção e detenção de resíduos sólidos, como metais. A água então é tratada sem química. Este processo de filtragem, principalmente de esgoto, é contínuo. Ao mesmo tempo em que a água do riacho do Cavouco entra no sistema, há água purificada saindo e sendo devolvida ao Capibaribe. Para este projeto do riacho do Cavouco foram empregadas 7,5 mil mudas de 36 tipos de macrófitas aquáticas nativas da região – como Heliconia psittacorum, Pontederia cordata, Canna generalis, Thalia geniculata, Echinodorus grandiflorus e Nymphea sp –, plantadas nas pedras dos tanques. As espécies foram selecionadas considerando a resistência ao clima local e o paisagismo projetado para o Parque do Caiara. Este tipo de vegetação macrófita contribui para a manutenção da biodiversidade e pode servir como indicador da qualidade da água. A tecnologia é semelhante à empregada na despoluição do rio Sena, da cidade de Paris, na França, que foi visitada por representantes da Aries. Mariana aponta que no Brasil a experiência já desperta interesse, por exemplo, da Universidade Federal de Pernambuco (UFP) e da cidade de Florianópolis (SC) para futura implantação. “Tem havido muita curiosidade”.

O engenheiro civil responsável pela obra recifense dos jardins filtrantes pela Aries, Renato Martiniano, registra que há uma técnica similar em Niterói (RJ) e em algumas indústrias nacionais. Em entrevista à Agência Brasil, Martiniano garante que o projeto pernambucano é pioneiro na gestão pública do Nordeste brasileiro. Ele considera que a manutenção dos jardins filtrantes é simples e de custo mais baixo que o tratamento convencional, além de respeito à natureza do riacho. “A foz do Cavouco é um ponto estratégico, onde foi instalado o jardim dentro do parque. Fico feliz porque é uma solução de design urbano sensível à água, que interage com o ciclo hidrológico natural, ou seja, capta e devolve para o rio Capibaribe uma água de melhor qualidade.” Martiniano, que é especialista em recursos hídricos pela UFP, defende a ativação de mais sistemas de jardins filtrantes pelo país e formas inovadoras para promover o saneamento básico em áreas menores. Para ele, a solução seria uma alternativa para complementar o tratamento convencional de esgoto, realizado nas grandes cidades com elementos considerados tóxicos à vida humana e de peixes. “É possível a gente fazer ações, não precisa centralizar isso no sistema tradicional de tratamento de esgoto. A gente pode, sim, trazer soluções descentralizadas, sem desmerecer o outro sistema, que somando aumentem a segurança hídrica, tratem e protejam esses corpos e melhorem a classificação das águas. Assim, melhora como um todo o bem-estar das pessoas e o futuro das gerações vindouras”.

Resultados
A expectativa da Agência Aries é de que o projeto sustentável possa reduzir entre 90% e 95% a poluição das águas do riacho do Cavouco. A diretora Mariana conta que testes químicos de monitoramento já estão sendo realizados para aferir a qualidade de amostras da água do riacho, mas que visualmente, a água cinzenta está dando lugar a um líquido bem menos turvo. “Já no primeiro resultado, na entrada do sistema de filtragem, a gente vê, a olho nu, a diferença da qualidade da água. E principalmente na saída, quando essa água volta ao riacho e vai desaguar no [rio] Capibaribe”. De acordo com Mariana, a oxigenação das águas do Cavouco aumentou com o sistema inovador e, também está mudando o microclima local. “Está cheio de sapos lá, beija-flores, capivaras e peixes. A vida está chegando”. “O projeto é uma gota no oceano. Mas, é uma gota de contribuição importante porque melhora a qualidade de vida do peixe que está ali, tem capivara, jacaré e vários animais que vivem no local. É um rio urbano e que sofre com as consequências da poluição. Mas, o [Capibaribe] que é tão importante para o Recife ainda é muito poluído”, constata Mariana. O monitoramento da qualidade dessas águas do riacho vai ser frequente, já que novos sistemas serão instalados nos próximos meses, na entrada e na saída dos jardins filtrantes.

Nova etapa
O projeto CITInova do MCTI vai ser finalizado nos próximos meses, com a intenção de ainda replicar as experiências por vários anos. O coordenador-Geral de Ecossistemas e Biodiversidade do ministério Luiz Henrique Mourão do Canto Pereira, anunciou à Agência Brasil, que uma segunda edição – o CITInova 2, foi aprovado pelo Fundo Global do Meio Ambiente com um novo perfil que contemplará três regiões metropolitanas: Florianópolis, Belém e Teresina. “É um desafio até maior porque envolve o poder de uma outra esfera de governo, o nível é estadual. Esse novo projeto terá início, agora, em maio ou junho”, diz Pereira.
Fonte - Agência Brasil 26/03/2023