quinta-feira, 31 de julho de 2014

Flip debate papel do urbanismo para a construção de uma cidade mais democrática

Cidadania

Um dos fundadores do Observatório de Favelas, que desenvolve trabalhos sociais na periferia do Rio de Janeiro, Jailson de Sousa acredita que as políticas públicas de segurança aplicadas em favelas tem como eixo a repressão e a polícia atua apenas para combater a criminalidade. 

Flávia Villela 
Repórter da Agência Brasil  
foto - ilustração
O papel do urbanismo na construção de uma cidade mais democrática, acessível e menos desigual foi o tema da primeira mesa hoje (31), no segundo dia da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) 2014. Para a sul-africana Rene Uren, que é conselheira da cooperação alemã para o desenvolvimento sustentável na área de prevenção de crime e da violência na África do Sul, se a comunidades oferecer dignidade, infraestrutura, equipamentos sociais e serviços básicos, a presença policial não precisa ser ostensiva.
"As moradias feitas pelo governo [sul-africano] têm cerca de 20 metros quadrados, sem paredes internas, que abrigam muitas vezes famílias de oito pessoas", explicou ao citar que as condições precárias contribuem para a proliferação de gangues e assassinatos. "Na minha comunidade 33 mil pessoas moram em uma área planejada para 3 mil pessoas. Temos uma média de dez mortes a cada 11 dias", a maioria de adolescentes, ressaltou.
Um dos fundadores do Observatório de Favelas, que desenvolve trabalhos sociais na periferia do Rio de Janeiro, Jailson de Sousa acredita que as políticas públicas de segurança aplicadas em favelas tem como eixo a repressão e a polícia atua apenas para combater a criminalidade. A lógica de guerra e combate está arraigada nos policiais que entram para a corporação, argumentou ele. “Eles não querem ser mediadores de conflitos, trabalhar a pé", disse. "Precisamos construir um modelo de segurança que incorpore mais a população local que veja a segurança como um direito do cidadão".
A antropóloga Paula Miraglia, especialista em temas como prevenção da violência, segurança pública e urbanismo, acredita que um dos desafios das cidades hoje é promover a conexão entre a periferia e o centro. Para ela, a violência é resultado das desigualdades estruturais que ainda não foram superadas no país e de um modelo de desenvolvimento que não considera a segurança como um direito, mas como um privilégio garantido pelo setor privado. "As cidades brasileiras não podem ser pensadas como negócio, " defendeu ela."Temos uma das maiores populações carcerárias do mundo e ainda assim a violência não para de crescer", disse.
"É necessário ter um modelo de crescimento que agregue e beneficie o conjunto das cidades, que não seja excludente", disse. Para a antropóloga, cidades mal planejadas geram e perpetuam desigualdades e consequentemente a violência. "Belo Monte virou uma grande cracolândia", comentou ao citar a construção da Hidrelétrica de Belo Monte como exemplo de grandes empreendimentos que provocam impactos negativos nas cidades pela falta de planejamento.
Fonte - Agência Brasil  31/07/2014

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