quinta-feira, 30 de abril de 2015

Os 161 anos de ferrovia, na visão dos preservacionistas

Ferrovias

A preservação ferroviária de antigas estações, rotundas, oficinas, trechos, sítios, locomotivas, carros, vagões, objetos, ferramentas, documentos, objetos não devem ser vistas somente como objeto de saudosismo ou exemplar de colecionadores. Trata-se de um presente do passado para se pensar num futuro melhor, menos poluído e mais civilizado em termos de transporte, passageiros e cargas.

Antonio Pastori

Do ponto de vista dos amantes do transporte ferroviário de passageiros e preservacionismo, temos pouco a comemorar nesse dia tão importante para uma classe cuja atividade se iniciou há 161 anos atrás.
Não há como deixar de lamentar o abandono, a destruição de históricas estações ferroviárias e a erradicação de trechos pioneiros por força da nefasta Resolução 4.131/2013 da ANTT. Tem também a destruição homeopática de material rodante que vai sendo corroído pela ferrugem.
A preservação ferroviária de antigas estações, rotundas, oficinas, trechos, sítios, locomotivas, carros, vagões, objetos, ferramentas, documentos, objetos não devem ser vistas somente como objeto de saudosismo ou exemplar de colecionadores. Trata-se de um presente do passado para se pensar num futuro melhor, menos poluído e mais civilizado em termos de transporte, passageiros e cargas.
Lamentamos, também, o fato de que esse modal – e os projetos do PIL Ferrovias - estejam muito mais voltados para o aspecto mercantilista do transporte de cargas jogando para o desvio do esquecimento o transporte de passageiros em médias e longas distâncias, com raras exceções. Estamos cada vez mais distantes do padrão europeu de mobilidade sobre trilhos. Devemos nos contentar com os (poucos) projetos urbanos sobre trilhos de metrôs, VLT’s e outros.
Fato incontestável é que o modelo de mobilidade centrado nas rodovias deixa ao abandono milhões de motoristas e passageiros que sofrem nos constantes congestionamentos em áreas urbanas ou em se ariscam em estradas, se não esburacadas, em disputa feroz com enormes caminhões e motoristas apressados. Felizes os que conseguem se livrar de inevitáveis congestionamentos ou dos acidentes, que ceifam milhares de vidas todos os dias e põe o Brasil na lista dos recordistas nessa barbárie sobre rodas.
Vale a pena registrar que a locomotiva a vapor Baroneza, primeira a trafegar em solo brasileiro, fez a viagem inaugural na estonteante velocidade média de 37km/h, que é o dobro da velocidade média dos veículos que hoje trafegam nos nossos centros urbanos. Nada contra o automóvel e toda sua moderna tecnologia embarcada mas, pergunto: evoluímos?
Para citar um único exemplo quanto à vantagem do transporte ferroviário sobre o rodoviário, a E. F. príncipe do Grão-Pará (1883-1964), que ligava Petrópolis ao Rio de Janeiro, registrou somente um único acidente com três vítimas fatais no trecho a cremalheira de 6 km no plano inclinado de 18% da Serra da Estrela durante os 81 anos ininterruptos de operação. Com o fim da ligação ferroviária, o acesso à Petrópolis passou a ser exclusivamente pela Estrada Rio Petrópolis (BR-040), inaugurada em 1926. O trecho de descida dessa rodovia acumula, em quase cem anos de existência, dezena de milhares de acidentes e mais alguns milhares de mortos. Esse fato merece uma profunda reflexão por parte dos decisores, públicos e privados.
Para encerrar a discussão, anexamos uma foto atual e antiga do universo ferroviário brasileiro. Contendo um significado explícito, um recado do passado esquecido, uma denúncia quanto ao descaso no presente e uma esperança de futuro melhor para esse modal que foi – e ainda é - tão importante para o desenvolvimento do país.
Antonio Pastori - Pesquisador-ferroviarista, mestre em economia, administrador de empresas e contador. Foi Conselheiro nas empresas FERRONORTE, FERROBAN e NOVOESTE, representando o BNDES; é coordenador do GFPF-Grupo Fluminense de Preservação Ferroviária; membro da AFL- Academia Ferroviária de Letras; entre outros. Tendo dedicado sua carreira ao setor ferroviário.
Fonte - Revista Ferroviária  30/04/2015


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