A primeira chave, segundo Maffesoli, é a criatividade que, na avaliação dele, é uma das marcas da juventude brasileira. “É um momento que, no sentido simples, há uma efervescência, um formigamento”. O sociólogo, que é observador atento dos movimentos envolvendo os jovens, entende que essa criatividade é uma das marcas do novo “valor do trabalho” (uma das chaves de sua teoria), que precisa ser apropriado por empresas e gestores.
Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
foto - ilustração |
A primeira chave, segundo Maffesoli, é a criatividade que, na avaliação dele, é uma das marcas da juventude brasileira. “É um momento que, no sentido simples, há uma efervescência, um formigamento”. O sociólogo, que é observador atento dos movimentos envolvendo os jovens, entende que essa criatividade é uma das marcas do novo “valor do trabalho” (uma das chaves de sua teoria), que precisa ser apropriado por empresas e gestores.
Outro aspecto apontado pelo sociólogo é a “temporalidade” focada no presente, que atribui ao tempo todas as transformações, em contraposição ao futuro, chave da modernidade. “Há energia intensa no ar [no Brasil, que deve ser aproveitada]”, disse.
A terceira chave, de acordo com Maffesoli, é aquela que contrapõe a ideia de individualismo. Para o sociólogo, na contemporaneidade, as pessoas se juntam cada vez mais em tribos, para desfrutar das experiências. “Vejo nos meus alunos brasileiros: não é mais o eu, é o nós; a comunidade passa a ser mais importante que o indivíduo, que era a marca moderna”.
As demais chaves são usadas por Maffesoli para explicar as transformações da contemporaneidade. Ele cita o “utilitarismo”, por meio da estética compartilhada. “Está emergindo a estetização da existência, das emoções por meio da música e da arte. Tudo é feito para se compartilhar e vibrar junto, como os shows esportivos, musicais e religiosos”. Por fim, a saturação da sistematização da razão, o “racionalismo”, a necessidade atual de “mobilizar afetos”.
Durante a palestra, o sociólogo também destacou que o trabalho e o dinheiro, um dos pilares da sociedade moderna, estão sendo substituídos por produtos da criatividade, como arte e cultura, com potencial muito maior de mobilização.
Como exemplo dessa teoria, ele mencionou uma pesquisa encomendada pela equivalente à Federação das Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp) da França e que concluiu que “os salários não são mais o grande retentor de talentos. As pessoas querem trabalhar em empresas cool [legal, na tradução livre], que mantenham os trabalhadores com políticas de bem-estar”.
Maffesoli também abordou o atual modelo educacional, classificado por ele como “podre” por ser vertical. O ideal, sugere, seria uma forma de iniciação, de acompanhamento do aprendiz. “O jeito pós-moderno é horizontal”, disse. “De fato, com a tecnologia, são os fóruns de discussão, as redes sociais, como o Facebook que recusam o poder vertical, mas precisam de uma autoridade [o mediador, o administrador] a vingar”.
Perguntado sobre o livro do professor da Escola de Economia de Paris, Thomas Piketty, O Capital no Século 21, que fala da disparidade da concentração de renda, Maffesoli disse que não teve tempo de lê-lo. Mas que o aumento das desigualdades, no contexto atual, resultado do acirramento das diferenças, da concentração de pessoas em tribos, já era esperado. “A igualdade sempre foi um mito na modernidade”, reforçou o intelectual da pós-modernidade.
Amanhã (11), na Universidade de Brasília (UnB), Michel Maffesoli fará palestra na abertura do seminário Sociedade Contemporânea: A Imagem, o Simbólico e o Sensível.
Fonte - Agência Brasil 10/11/2014
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