O projeto Trem é Turismo, parceria do Sebrae com a Associação Brasileira das Operadoras de Trens Turísticos e Culturais (ABOTTC), acaba de ser anunciado e irá investir R$ 4,5 milhões em 20 linhas férreas dedicadas ao lazer em diferentes partes do país.
O Estado de S. Paulo
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Serão realizadas dezenas de oficinas e consultorias para impulsionar o potencial turístico dos negócios nas regiões por onde passam os trens. Em outras palavras, a iniciativa pretende melhorar a infraestrutura turística do entorno das ferrovias: cerca de 600 pousadas, hotéis, restaurantes, lojas e artesãos nas imediações dos trens receberão incentivos e assistência para profissionalizar suas atuações.
A ABOTTC estima o fluxo atual em 3 milhões de passageiros nos trens turísticos por ano – o Trem do Corcovado, sozinho, transporta 900 mil ao ano.
Maria-fumaça. Algumas velhas estradas de ferro permanecem em atividade – e não apenas para escoar minérios para os portos. Antigas marias-fumaça e outras composições autênticas estão de carros abertos para receber turistas em rotas cênicas ou históricas, mesmo em uma malha ferroviária menor do que aquela que existia no País décadas atrás. Nos anos de 1960, o Brasil chegou a ter 37 mil quilômetros de trilhos. Hoje, soma 28 mil quilômetros.
Entre os trechos que receberão atenção do projeto Trem é Turismo estão o Trem do Corcovado, o Trem do Forró, em Pernambuco, e o Trem das Montanhas Capixabas, no Espírito Santo. Além destes, fizemos uma seleção de outras locomotivas que serpenteiam por rotas cheias de graça, em meio a história e natureza, em passeios curtos ou trajetos com várias horas de duração.
À moda italiana
Até o início do século passado, as locomotivas conhecidas como marias-fumaça eram muito usadas para transportar pessoas e carga pelos sinuosos caminhos da Serra Gaúcha. Hoje, o Trem do Vinho, que parte da estação de Bento Gonçalves, é um passeio à moda antiga, com direito a vários clichês.
Antes do embarque, os turistas são recebidos com degustação de queijos da região e vinhos da Vinícola Miolo. O percurso tem apresentações de danças folclóricas e canções gaúchas e italianas. Na parada em Garibaldi, a vinícola que leva o nome da cidade serve o espumante moscatel para um brinde.
Duas horas depois, mais um show de música italiana celebra a chegada a Carlos Barbosa, onde outros passageiros embarcam para fazer o trecho de volta. Passagens desde R$ 77: mfumaca.com.br.
Dois trechos do passado
Na cidade que se acostumou a associar trem com lotação máxima e desconforto, duas rotas turísticas se destacam. Com percurso curto, de apenas 25 minutos, o Trem dos Imigrantes (abpfsp.com.br; R$ 6) é o mais histórico, pois remonta ao passado da estrada de ferro Santos-Jundiaí, operada pela The São Paulo Railway Company.
A bem conservada locomotiva de 1922 opera por 3 quilômetros, entre as estações Mooca e Brás, mesmo caminho por onde imigrantes de mais de 60 nacionalidades chegavam a São Paulo para depois seguir às lavouras do interior do Estado.
Da Estação da Luz parte, aos domingos (exceto no segundo de cada mês), às 8h30, o Expresso Turístico com destino a Paranapiacaba. A vila de arquitetura inglesa que já se candidatou a Patrimônio da Humanidade foi testemunha de uma importante fase de expansão da tecnologia ferroviária no Brasil, na segunda metade do século 19. Com 48 quilômetros de extensão, o trajeto dura 1h30 e é feito em dois carros de aço tracionados por uma locomotiva da década de 1950, totalmente reformada. Paranapiacaba anda sofrendo para preservar seu patrimônio, mas tem ícones como a Torre do Relógio.
O retorno começa às 16h30 – passagem de ida e volta desde R$ 34: oesta.do/expressoturistico.
Clássico mineiro
A estação ferroviária de Ouro Preto, por si só, justifica a visita, mesmo para quem decide não embarcar no Trem da Vale, que liga a cidade mineira à vizinha Mariana, em um percurso curto – porém muito agradável – de 20 quilômetros. O passeio é um clássico da região e interessante imersão no clima do início do século passado.
Na plataforma, a sala de memórias é um mini museu multimídia que merece atenção: em gravações, moradores antigos recordam como era a vida por ali e contam causos divertidos de juventude e da relação com a ferrovia. “O trem é minha vida, essa maria-fumaça tem de contar muita história”, suspira uma mulher.
Apesar do pequeno erro que ela comete – já não é uma maria-fumaça que opera ali, mas uma “maria-elétrica”, como brincam os moradores – o carro com janelas panorâmicas para contemplar a natureza do entorno dos trilhos é mesmo um achado. Com direito a cachoeira bem perto da janela, cuja aproximação é avisada pelo condutor com antecedência suficiente para garantir máquinas fotográficas a postos. Cada trecho custa a partir de R$ 56, nos carros convencionais, e R$ 80, no panorâmico: tremdavale.org.
Curvas da Serra do Mar
Passeio turístico dos mais bem cotados na capital paranaense, o extenso trecho de trem entre Curitiba e Morretes pela encantadora Serra da Graciosa é uma sequência de suspiros e respiração suspensa.
Os trilhos seguem por 110 quilômetros e, a bordo do Trem da Serra do Mar, o viajante observa curvas e abismos vertiginosos sobre os quais os trens parecem flutuar.
São 900 metros de desnível ao longo da serra forrada pela Mata Atlântica, com direito a mirantes e cachoeiras cênicas. Durante 3 horas de viagem, o trem atravessa 13 túneis até chegar ao nível do mar. Morretes preserva o casario histórico e a Igreja Matriz.
Os passageiros podem escolher entre carros simples e luxuosos, com diferentes tipos de serviço, de lanche a um catering de primeira classe com champanhe. Bilhetes só de ida custam a partir de R$ 72. Preços e programação em serraverdeexpress.com.br.
Natureza selvagem
Na maior planície alagável do planeta, voadeiras e o lombo dos animais, especialmente cavalos, costumam ser os meios de transporte mais usados para programas turísticos. Mas o Pantanal, um dos principais destinos de viajantes no Brasil, tem seu trem, que liga os municípios de Aquidauana e Miranda, no Mato Grosso do Sul.
No caminho do Trem do Pantanal, um festival de vida desfila diante das janelas: o voo das araras-azuis e dos tuiuiús; as poses e acrobacias do macacos nas árvores. Formações rochosas de chapadões se sobressaem no horizonte, às vezes bem perto do trem. Como a partida de Aquidauana ocorre todos os sábados, às 13h30, e o retorno é só no domingo, às 10 horas, será preciso pernoitar em Miranda. Na cidade, o ecoturismo é o forte, com passeios como safáris fotográficos e cavalgadas. A culinária à base de peixes de rio e o artesanato feito de barro pelos índios kadiwéus merecem atenção. Cada trecho custa a partir de R$ 90: serraverdeexpress.com.br.
Fonte - Revista Ferroviária 14/10/2014
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