Para discutir o assunto, o XXV Congresso Mundial da União Internacional de Organizações de Pesquisa Florestal (IUFRO) trouxe a plenária “Florestas e produtos florestais para um futuro mais verde”.Foram convidados para o debate o diretor do programa de Pesquisa GCIAR sobre Florestas, Árvores e Agroflorestas, Vincent Gitz, da Indonésia, e Francisco Razzolini, diretor executivo de Tecnologia Industrial, Inovação e Produtos Sustentáveis da Klabin S/A. A professora Daniela Kleinschmit foi a moderadora da plenária.
Revista Amazônia
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Para discutir o assunto, o XXV Congresso Mundial da União Internacional de Organizações de Pesquisa Florestal (IUFRO) trouxe a plenária “Florestas e produtos florestais para um futuro mais verde”.
Foram convidados para o debate o diretor do programa de Pesquisa GCIAR sobre Florestas, Árvores e Agroflorestas, Vincent Gitz, da Indonésia, e Francisco Razzolini, diretor executivo de Tecnologia Industrial, Inovação e Produtos Sustentáveis da Klabin S/A. A professora Daniela Kleinschmit foi a moderadora da plenária.
Para dar início ao debate, Daniela destacou que toda discussão tem “duas mãos” e explicou que, ao mesmo tempo que o setor florestal tem tido destaque para resolver as questões climáticas e o aquecimento global, há também os efeitos controversos.
“Os produtos florestas estando no centro podem trazer outros problemas, como o aumento da exploração, possível perda de biodiversidade e a lacuna resultante entre demanda e fornecimento”.
Vicent Gitz concordou, e afirmou que o mundo quer mais árvores, mais florestas e mais madeira, mas que isso não está acontecendo. O pesquisador é líder no programa CGIAR, uma parceria global de pesquisa para um futuro com segurança alimentar, dedicado à redução da pobreza, aprimoramento da segurança alimentar e nutricional e melhoria dos recursos naturais.
Segundo ele, o problema está na economia, que é “estúpida, porque o sistema global de alimentação é o principal drive de desmatamento e má conservação de florestas”. Quando se pensa em madeira, Gitz apontou que um número importante mostra que o consumo per capita é bastante desigual, citando que o consumo na Europa, por exemplo, é seis vezes mais alto do que o da Ásia.
Além disso, ele lembrou que o principal limite para o consumo é a produção regional, à medida que o comércio entre regiões é limitado. “Há potencial de crescimento de demanda, seguindo o crescimento populacional na África e Ásia, locais onde o consumo per capita é baixo.
Também devemos ter em mente que leva tempo para a madeira crescer, e o aumento da demanda pode ser endereçado para o que já está disponível. Do contrário, vamos ‘comer as florestas’”, comentou.
Ele reforçou que a preservação as florestas plantadas representam 7% da superfície de florestas e produzem 47% da madeira bruta, e para fazer estimativas para o aumento de plantações, é preciso levar em conta o que existe de terra disponível e aproveitar os potenciais de reprodução a curto prazo. Mas, segundo o pesquisador, “não há muito para se trabalhar nas florestas. Por isso, o mais importante é trabalharmos na cadeia de valor”.
O problema para isso são os obstáculos, como a estrutura clássica, já que, quando o país e o setor estão em desenvolvimento, falta cadeia de valor organizada, o que dificulta a criação de espaço para investimento econômico.
Na questão econômica, especificamente das florestas e agricultura, ele citou que há uma linha de tempo entre investimentos e retorno, baixas margens operacionais e baixa visibilidade para operações a longo prazo.
Por isso, é preciso falar de políticas de terras, pensando também na competição com outros setores, como a agricultura, por exemplo, que dá retorno mais rápido. Nesse cenário, Vicent Gitz disse que há algumas ações que podem ser propostas, como o zoneamento do uso da terra, que identifica as áreas que são permanentemente de uso florestal e que podem proteger florestas intactas e funções ecossistêmicas.
“Zoneamento de terra pode levar a segurar uso de terra a longo prazo e facilitar financiamentos, pois reconhece valor adicionado a partir dos investimentos originais”, explicou.
Em seguida, ele sugeriu organização e planejamento no desenvolvimento do setor florestal ou parte dele, enquanto que, simultaneamente, usam-se diferentes áreas.
Outro ponto levantado pelo pesquisador foi com relação à transformação política. Ele disse que, em nível nacional, isso merece ser apoiado pela comunidade internacional, por reconhecimento dos ativos globais de preservação e sustentabilidade.
“A cooperação internacional poderia se concentrar em apoio ao ambiente institucional e econômico propício ao desenvolvimento da silvicultura, transferência de tecnologia, facilitação de investimentos e pesquisa e desenvolvimento”, destacou.
Por fim, Gitz ressaltou que toda essa discussão traz implicações para cientistas e pesquisadores, pois as soluções “não são como receita de bolo”.
“Em uma Conferência em Roma que falava de desmatamento, alguns participantes disseram que não precisamos de mais pesquisa, de mais ciência, precisamos agir. Mas nós acreditamos que precisamos, sim, de tudo isso para desenvolver mais soluções”.
Como sugestões, ele citou zoneamento de terras com base em evidências; fundamentos para revisitar os modelos de produção e sua coabitação; e nova análise da curva de transição florestal, para mais florestas e mais produtos de madeira ao mesmo tempo, com mais dados sobre os custos e os benefícios do setor florestal, incluindo restauração de terras e de florestas.
“Temos um número limitado de soluções técnicas testadas com conhecido retorno econômico. Vimos ótimos exemplos no Brasil realizados pela Embrapa para testar projetos de cadeia de valor, para ver como o desenvolvimento técnico pode ser acompanhado com análise de custo-benefício.
Precisamos basear tudo isso com opções de abordagem contextual, em que tanto os tipos de floresta, como o modo de produção e cadeia de valor são adaptados às condições”, concluiu.
Fonte - Revista Amazônia 06/10/2019
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