As estatísticas são alarmantes e foram divulgadas este mês, o mês do Movimento Maio Amarelo, que busca chamar a atenção da sociedade para o alto índice de mortos e feridos no trânsito em todo o mundo. Os números trazem à tona a urgência do tema, que gera reflexos sobre as demandas de diversos outros setores sociais, e expõem a necessidade de que os gestores públicos se debrucem sobre o problema, na busca pela melhoria do planejamento integrado de transporte.
Roberta Marchesi* - ANPTrilhos
foto - ilustração/Pregopontocom |
As estatísticas são alarmantes e foram divulgadas este mês, o mês do Movimento Maio Amarelo, que busca chamar a atenção da sociedade para o alto índice de mortos e feridos no trânsito em todo o mundo. Os números trazem à tona a urgência do tema, que gera reflexos sobre as demandas de diversos outros setores sociais, e expõem a necessidade de que os gestores públicos se debrucem sobre o problema, na busca pela melhoria do planejamento integrado de transporte. Com os atuais níveis de urbanização e a alta densidade demográfica das cidades, a tendência é que o problema se agrave ainda mais com o passar dos anos, o que serve de alerta para os grandes desafios que os gestores públicos terão pela frente.
Com o tamanho e o adensamento dos nossos centros urbanos não se pode mais pensar em mobilidade de forma isolada, tendo como única alternativa os velhos sistemas dependentes de veículos automotores. É preciso unir a sociedade, seus líderes e governantes, na busca por avançar com as soluções, para evitar o colapso iminente da mobilidade nas metrópoles e os reflexos negativos gerados por ela.
A ANPTrilhos, que congrega os operadores metroferroviários brasileiros, defende, como parte da solução, a estruturação dos grandes fluxos de transporte, adotando-se um modelo que garanta a fluidez dos milhões de deslocamentos diários, organizando-os em corredores de alta capacidade, capazes de dar agilidade aos deslocamentos com regularidade e segurança. E esses corredores, essencialmente metroferroviários, devem estar interligados com os demais modos de transporte da cidade, nas primeira e última milhas, buscando criar uma verdadeira rede inteligente e eficiente de transporte.
A implantação de trens, metrôs e VLTs contribui para amenizar os congestionamentos, para reduzir o número de acidentes de trânsito e os custos com internações hospitalares. E esses resultados são obtidos porque o transporte sobre trilhos é capaz movimentar grande número de passageiros e tem baixíssimos índices de acidentes, contribuindo significativamente para a qualidade de vida da população e a qualidade ambiental das cidades. Transportando quase 11 milhões de pessoas por dia, os trilhos urbanos colaboram com a retirada diária de 1,3 milhão de carros e 18 mil ônibus das ruas, nas cidades onde estão implantados, proporcionando redução de R$ 820 milhões em custos com acidentes, em termos de diminuição de ocorrências e gastos com saúde pública. Além disso, gera economia de 1 bilhão de litros de combustível fóssil e evita a emissões de 2,4 milhões de toneladas de poluentes na atmosfera anualmente.
É fato que a redução do alto número de acidentes de trânsito no Brasil não será obtida apenas com o crescimento das redes de transporte público sobre trilhos. É preciso investir em educação de trânsito, fiscalização de condutores, autuação de infratores, formação e especialização dos agentes de trânsito, consciência cívica e tantas outras medidas que, juntas, resultarão num trânsito mais livre de acidentes, congestionamento e poluição.
É fundamental que possamos entender que mobilidade urbana não se trata de veículos, mas de pessoas. São pessoas que se acidentam; pessoas que perdem tempo em congestionamentos e transporte público ineficiente; e são pessoas que ingerem diariamente, mesmo sem perceber, milhares de poluentes atmosféricos. Precisamos perceber que investir em planejamento e mobilidade urbana tem reflexos muito além da malha de transporte em si, pois ele gera reflexos positivos sobre a economia local, reduzindo gastos públicos com saúde e aumentando arrecadação com valorização imobiliária. Investir em mobilidade é investir no cidadão, disponibilizando um sistema de transporte eficiente e garantindo, a cada um de seus usuários, mais tempo para lazer, estudo ou família.
O mês de maio está chegando ao fim, mas o alerta do Movimento Maio Amarelo permanece por todo o ano. A solução para o problema da mobilidade é conhecida. É urgente e necessário que os governantes incluam em suas agendas, como prioridade, ações efetivas para tratar a questão. Não há mais espaço para projetos que não se concretizam e propostas que não saem do papel. É preciso ter coragem para quebrar velhos padrões e assumir uma política pública inovadora para o setor, para que as cidades possam ser dotadas de uma verdadeira rede de mobilidade urbana e os cidadãos possam usufruir dos benefícios de uma mobilidade urbana de qualidade.
*Roberta Marchesi é Diretora Executiva da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), Mestre em Economia e Pós-Graduada nas áreas de Planejamento, Orçamento e Logística.
Fonte - ANPTrilhos 31/05/2019
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