Transportes sobre trilhos
Vicente Vuolo*
foto - ilustração |
Por um longo período se discute a exatidão da data de fundação da cidade de São Vicente. Vários Franceses e Espanhóis, dizem que ali já era povoado em 1516, baseado nas fabulosas histórias contadas por Aleixo Garcia. Já o padre Jaboatão afirma que Martim Afonso chegou em 1525, todavia nem os Portugueses nem ninguém conseguiu satisfatoriamente definir a exata data de sua fundação.
A falta de registros confiáveis impede que se saiba ao certo o que aconteceu no final de 1541. Uma “onda gigante” teria arrasado o lugar. O cataclismo que atingiu a Vila foi relatado por Frei Gaspar da Madre de Deus no século 18, com base nas atas da Câmara. Lendo os textos, o religioso descobriu e registrou: “Hoje é mar o sítio onde esteve a Vila”.
A origem do seu nome remonta no ano de 325, na cidade espanhola de Huesca, então Província de Saragoza. Lá nasceu Vicente, padre dedicado que se destacava por seu trabalho, tanto que o Bispo de Saragoza Valério lhe confiou à missão de pregador cristão e doutrinador catequético. O Padre Vicente foi condenado pelo imperador Diocleciano, que perseguia os cristãos na Espanha. O martírio sofrido por Vicente foi brutal com gravetos fincado entre unhas e colocado sobre uma grelha de ferro para ser queimado aos poucos. Mesmo assim, Vicente não negou a fé cristã. Seu corpo foi jogado às aves de rapina. Os relatos dão conta que uma delas, um corvo, espantava as outras aves, evitando a aproximação das demais. Os carrascos decidiram, então, jogá-lo ao mar
O corpo de Vicente foi resgatado por cristãos, que o sepultaram em uma capela perto de Valência, na Espanha. Depois, seus restos mortais foram levados à Abadia de Castes, na França, onde foram registrados milagres. Em seguida, foram levados para Lisboa, na Catedral da Sé, onde estão até hoje. Vicente foi canonizado e recebeu o nome de São Vicente Mártir, hoje Santo Padroeiro de São Vicente e de Lisboa.
A cidade de São Vicente tem como base o descobrimento do Brasil e a sua condição histórica antiga. Por isso, detém o título de “Cidade Monumento da História Pátria” ou de “Cellula Mater da Nacionalidade”. Todo dia 22 de janeiro, é comemorado o aniversário da cidade, cujo ponto alto do evento é a encenação da Vila de São Vicente, onde se reafirma sua condição histórica.
O exemplo de São Vicente deve ser seguido por outras cidades históricas como a capital de Mato Grosso, prestes a completar 300 anos. Que sirva de inspiração, também, para concluir as obras rapidamente do VLT de Cuiabá - Várzea-Grande, mal administrado e atrasado, e com denúncias de corrupção. Que os erros de alguns (que devem ser punidos de maneira exemplar) não impeçam de circular o transporte, que é um dos mais eficientes do mundo.
Que o valor histórico da cidade celebrado todos os anos insira na mente de cada brasileiro como é importante cultuar o nosso passado, mas pensar no futuro.
O início da operação do VLT representa um marco, também, na história da cidade. Além do charme característico do trenzinho elétrico, coloca São Vicente num patamar “sui generis” para desenvolver o seu alto potencial turístico de belas praias e de patrimônio histórico. A primeira linha já está circulando ao longo de sete estações: Mascarenhas de Moraes, São Vicente, Emmerich, Nossa Senhora das Graças, José Monteiro, Itararé e João Ribeiro fazem parte do trecho Barreiros-Porto. O percurso de 6 km é percorrido em 24 minutos. A velocidade média inicial é de 20km/h.
Na publicidade da EMTU (empresa que administra o VLT) está escrito: “Já em operação há alguns anos em cidades europeias com excelentes resultados, o Veículo Leve Sobre Trilhos tem emissão zero de poluentes. Interage com o meio urbano de maneira amigável, circulando ao nível das ruas, preservando o patrimônio histórico e colaborando para a revitalização urbanística das vias por onde passa”. Será que precisamos de mais estímulo para fazer o nosso, em Cuiabá?
*Vicente Vuolo,economista,cientista político e analista legislativo do Senado Federal
Fonte - Diário de Cuiabá 14/05/2015
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