A pandemia de Covid-19 está tendo um impacto arrasador em mais de 476 milhões de povos nativos em todo o mundo. Este domingo, 9 de agosto, é Dia Internacional dos Povos Indígenas.Em mensagem de vídeo, o chefe da ONU lembrou que “ao longo da história, os povos indígenas foram dizimados por doenças trazidas de outros lugares, às quais não tinham imunidade.”
foto - ilustração/arquivo |
Em mensagem de vídeo, o chefe da ONU lembrou que “ao longo da história, os povos indígenas foram dizimados por doenças trazidas de outros lugares, às quais não tinham imunidade.”
DificuldadesSegundo Guterres, antes da pandemia, os povos indígenas já enfrentavam desigualdades, estigmatização e discriminação. Agora, o acesso inadequado a cuidados de saúde, água potável e saneamento aumentou sua vulnerabilidade.
As mulheres indígenas, que costumam ser as principais fornecedoras de alimentos para suas famílias, foram particularmente afetadas. Segundo o chefe da ONU, também é preciso “abordar com urgência a situação das crianças, que não têm acesso a oportunidades virtuais de aprendizagem.”
Para o secretário-geral, “a realização dos direitos dos povos indígenas significa garantir sua inclusão e participação nas estratégias de resposta e recuperação da Covid-19.”
É uma doença tão perigosa, que veio para matar, sobretudo os nossos anciãos, uma questão que nos preservamos
No Brasil, o povo xané, mais conhecido por terena, é uma das maiores populações indígenas. Com mais de 27 mil pessoas, eles estão localizados no estado de Mato Grosso do Sul.
Em declarações à ONU News, o representante Marcos Terena disse que era “muito triste” que o novo coronavírus tenha chegado a essas populações.
“A gente viu nossas famílias correndo de um lado para o outro sem saber a quem pedir socorro, sem saber como se tratar. Não se conhece essa doença, ninguém conhece, não existe remédio, e o sistema de proteção do índio simplificou a solução do problema, com as máscaras. É uma doença tão perigosa, que veio para matar, sobretudo os nossos anciãos, uma questão que nos preservamos, porque ali está a nossa ciência, o nosso conhecimento, a nossa ancestralidade, as nossas memórias, e são eles que estão morrendo primeiro.”
Nas Américas, mais de 70 mil indígenas foram infectados até o momento. Entre eles estão quase 23 mil membros de 190 povos indígenas da bacia amazônica.
Mais de mil mortes foram registradas, incluindo vários idosos com profundo conhecimento das tradições ancestrais. Entre eles está a morte no Brasil, esta semana, do cacique Aritana, do povo yawalapiti.
Marcos Terena também destacou a importância de incluir os povos indígenas no debate sobre como o mundo deve reconstruir melhor depois dessa pandemia.
“Estamos querendo debater a questão humanitária. Os direitos humanos, direitos a vida, qualidade de vida, nas nossas terras, e por isso lutamos pelas terras, onde estão 80% da biodiversidade do mundo. É com essa moeda, essa forma de ver, de trazer qualidade de vida para a humanidade, que queremos construir o chamado mundo melhor.”
Mais de mil mortes foram registradas, incluindo vários idosos com profundo conhecimento das tradições ancestrais
Direitos humanosJá a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, disse que esta pandemia “é uma ameaça crítica aos povos indígenas, em um momento em que muitos também lutam contra os danos ambientais causados pelo homem e a depredação econômica.”
Em nota, ela lembra que muitas comunidades têm pouco acesso a cuidados de saúde, à água potável e ao saneamento. Embora seu modo de vida comunitário possa aumentar a probabilidade de contágio rápido, Bachelet destaca exemplos inspiradores de comunidades que tomaram medidas para limitar a propagação.
Em junho, o Escritório de Direitos Humanos emitiu orientações sobre os direitos humanos destes povos no contexto da pandemia.
O documento destaca práticas adotadas por vários países e recomendações práticas com impacto imediato e de longo prazo na saúde.
Segundo Bachelet, “a pandemia enfatiza a importância de garantir que os povos indígenas possam exercer seus direitos ao autogoverno e à autodeterminação.”
Para a alta comissária, “trata-se de salvar vidas e proteger uma teia preciosa de culturas, línguas e conhecimentos tradicionais que conectam às raízes profundas da humanidade.”
Fonte - Revista Amazônia 12/08/2020
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