Conhecer a Amazônia não significa declinar dos constructos econômicos que pautam o desenvolvimento de uma nação e isentar todas as instituições locais. A crítica vazia e desacompanhada de um plano de ação pode convencer os eleitores mais devotos, mas não serve de retórica no desenvolvido ambiente político internacional ao qual este governo não registra nenhuma habilidade para transitar.
Gleriani Ferreira*
foto - ilustração/arquivo |
Conhecer a Amazônia não significa declinar dos constructos econômicos que pautam o desenvolvimento de uma nação e isentar todas as instituições locais. Por exemplo, na minha tese dentro da Faculdade de Administração da Universidade de São Paulo, pesquisei os gargalos que impedem a competitividade da cadeia produtiva da piscicultura na Amazônia brasileira. O livro Fundo Amazônia cooperação internacional e gestão brasileira, organizado pelo professor Jacques Marcovitch da mesma universidade, contou com mestrandos e doutorandos in loco, descrevendo projetos do Fundo Amazônia com críticas, por exemplo, ao fato do escritório sede estar localizado no Rio de Janeiro, longe da realidade amazônica.
Porém, tais críticas não invalidam o exímio trabalho que algumas ONGs, fiscais e instituições realizam na região. Sim, mais de 20 milhões de pessoas precisam de trabalho e renda para o desenvolvimento local e qual o plano do governo para isso? Não basta criticar, tem que apresentar propostas e trabalhar.
A crítica vazia e desacompanhada de um plano de ação pode convencer os eleitores mais devotos, mas não serve de retórica no desenvolvido ambiente político internacional ao qual este governo não registra nenhuma habilidade para transitar.
Fosse diferente e não teria renegado a verba destinada ao Fundo Amazônia da pior maneira possível: ofendendo a Alemanha. Wilson Lima, governador do Amazonas já reclama dessa perda e outros virão na sequência. Pois, eles sabem que os recursos doados ajudam, inclusive, a sustentar a estrutura do Corpo de Bombeiros de estados que lutam pelo combate aos incêndios na Amazônia.
A crítica é salutar dentro de uma democracia e podemos sonhar com a independência financeira ao desprezar recursos estrangeiros. Mas criamos um ambiente hostil com a Europa e pedimos apoio financeiro à Israel. Qual era a estratégia do governo? O que ganhamos com isso?
Nossa ineficiência é escancarada ao mundo porque a região que abriga a maior riqueza natural do planeta, registra os piores índices de desenvolvimento humano. Isso porque na Amazônia não existe nenhum município com IDH-M alto ou muito alto.
Mais do que críticas às instituições e declarações que desautorizam o IBAMA e criam um cenário benéfico para a ilegalidade, o Brasil carece de um plano de ação com mecanismos claros para o monitoramento das ONGs, o uso dos recursos e a criação de cadeias produtivas completas e competitivas lá na Amazônia.
A ingenuidade e o completo despreparo político agora rendem retrocesso nas negociações comerciais. Claro, qual é a novidade? Apenas um governo despreparado desconhece as bases em que são formados os acordos diplomáticos e políticos. Bastasse um mínimo de diplomacia e ética para o Brasil encontrar o caminho do desenvolvimento.
No entanto, estamos mais distantes do que nunca desse rumo.
A cada dia assistimos a novos episódios desastrosos de improviso, ignorância e hostilidade. Tudo o que não precisamos.
*Gleriani Ferreira
É professora de Sustentabilidade da Universidade Presbiteriana Mackenzie Alphaville
*Gleriani Ferreira
É professora de Sustentabilidade da Universidade Presbiteriana Mackenzie Alphaville
Fonte - Portogente 03/09/2019
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