No dia 16 de Outubro, numa tarde agradável, três amigos de longa data, amantes do Metrô, Plinio Assmann, o mais pioneiro e ilustre dos metroviários, Tadashi Nakagawa e minha humilde pessoa, Peter Alouche, três engenheiros que foram, em grande parte, e dentre muitos outros, responsáveis pela concepção das tecnologias do Metrô, decidimos empreender uma visita de “inspeção” à linha 5-Lilás, que acabava de inaugurar três de suas 17 estações
Diário do Transporte - RF
foto - ilustração/SkyscraperCity |
No dia 16 de Outubro, numa tarde agradável, três amigos de longa data, amantes do Metrô, Plinio Assmann, o mais pioneiro e ilustre dos metroviários, Tadashi Nakagawa e minha humilde pessoa, Peter Alouche, três engenheiros que foram, em grande parte, e dentre muitos outros, responsáveis pela concepção das tecnologias do Metrô, decidimos empreender uma visita de “inspeção” à linha 5-Lilás, que acabava de inaugurar três de suas 17 estações. Uma visita, como nos bons velhos tempos…
Este passeio começou com um belo almoço e uma conversa rápida sobre o roteiro da viagem, no Restaurante japonês Shigue, no Paraíso, onde somos “habitués”. Queríamos na realidade “vistoriar” três estações recém-inauguradas: Hospital São Paulo, Santa Cruz e Chácara Klabin e verificar o desempenho da Concessionária Via Mobilidade, que assumiu toda a operação da linha, de Capão Redondo a Chácara Klabin. Também nos interessava verificar a qualidade da integração da Linha 5 com a Linha 1-Azul na Estação Santa Cruz e com a linha 2- Verde na estação Chácara Klabin, visto o imenso fluxo de usuários previsto.
Começamos a maratona na estação Paraíso em direção a Santa Cruz. Tudo perfeito como sempre, na linha operada pelo Metro estatal, embora não notamos ainda nos corredores e mezanino da Linha 1, a renovação publicitária, prometida pela empresa francesa JCDecaux.
A passagem da Linha 1 para a Linha 5 nos impressionou pelo contraste impactante, entre a simplicidade da estação do lado da linha Azul e a grandiosidade do lado da Linha Lilás. De fato, a arquitetura monumental da nova estação Santa Cruz precisou de muita criatividade para sua concepção e apresentou grandes desafios na sua construção, especialmente na interligação entre as 2 linhas, devido às condicionantes do traçado e à ocupação do solo na superfície. A estação passa por debaixo de um sistema viário denso, um grande centro comercial, um terminal de ônibus congestionado, além da própria estação da linha 1. Foi necessário que se construísse a estação por meio de túneis que passam sob o conjunto das edificações e do viário, escavados em condições de contorno especiais. Para isso foi necessária muita criatividade da engenharia e da geotecnologia dos metroviários como das empresas brasileiras contratadas.
As Estações da Linha 5 são bem profundas e por isso são equipadas com muitas escadas rolantes e elevadores: a Estação Santa Cruz tem seis elevadores e 43 escadas rolantes; a Estação Chácara Klabin, que se interliga à Linha 2-Verde, tem três elevadores e 18 escadas rolantes; e a estação Hospital São Paulo, localizada na rua Pedro de Toledo. na Vila Clementino, tem quatro elevadores e 17 escadas rolantes. Haja manutenção para tantos equipamentos…
A Linha 5 – lilás é certamente a mais grandiosa e imponente da Rede metroviária. Estações muito profundas, com acessos imensos cobertos por abóbadas de vidro, permitindo uma iluminação natural perfeita e uma transparência arquitetônica profunda. De dentro da Estação Moema, dá para contemplar a Igreja Nossa Senhora Aparecida e toda a praça ao lado. Maravilhoso. Neste sentido, os arquitetos foram muito felizes. Parabéns a eles. Tenho certeza que não há nenhuma obra urbana de engenharia no Brasil comparável ao Metrô. Parabéns aos engenheiros da Companhia do Metrô!
Mas uma coisa nos entristeceu, pelo menos a mim pessoalmente. Faltam obras de arte para dar mais alma e alegria às estações da Linha 5 (como aliás da Linha 4). Isto é inconcebível. As linhas operadas pelo Metrô estatal, são um verdadeiro museu vivo, a promover os artistas brasileiros. Só vou citar o Gontran Neto, recém falecido em Paris, cujas obras nas Estações Marechal Deodoro e Itaquera – Corinthians, são verdadeiras obras-primas. Não dá para entender porque a Concessionária das linhas 4 e 5 não entrou nesta onda de promoção à arte, pondo mais cores e cultura às imensas paredes dos mezaninos e acessos. Espero que um dia os seus dirigentes recebam as luzes de Apolo…
Falando de concessionária da operação, verificamos que ela é muito competente. Entende do assunto. O pessoal operativo, muito atencioso, nos permitiu circular à vontade e até tiraram fotos conosco. Notamos porém alguns probleminhas, do tipo uma escada rolante parada, um elevador não funcionando, coisas absolutamente aceitáveis, considerando que eram os primeiros dias da operação comercial. Também constatamos que o sistema de informação na Estação Santa Cruz era meio confuso. Os agentes nos explicaram que este sistema está sendo reformulado para adaptar-se ao novo fluxo dos usuários. Nas Plataformas de embarque, verificamos que as Portas de Plataforma, os “screen doors”, não estavam ainda completamente instaladas. Fomos informados que houve um problema com o fornecedor alemão, mas que isto será sanado nos próximos meses, com um novo fornecedor.
foto - ilustração/Twiter |
Nosso passeio terminou na estação Moema, onde tivemos que pegar um táxi para chegar ao meu apartamento localizado em Campo Belo, já que infelizmente a Estação Campo Belo terá que esperar dois ou três meses para ser inaugurada. No meu apartamento que, carinhosamente, chamo de “Beauchamp”, Plinio, Tadashi e eu, pudemos então conversar sobre a nossa visita e com uma taça de bom vinho na mão, francês naturalmente, meditar sobre o nosso amado Metrô de São Paulo, sobre o seu futuro tão incerto e as perspectivas do nosso Brasil. Valeu a pena.
O Time que visitou a Linha 5 Lilás
Peter Ludwig Alouche – engenheiro eletricista, pós-graduado para mestrado em Sistemas de Potência na Poli-USP, com diversos cursos de especialização em transporte público em universidades e entidades do Brasil, Europa e Japão. Foi assessor técnico da presidência do Metrô de São Paulo para Projetos Estratégicos, representante na UITP e no CoMET. Foi professor titular, linhas de transmissão na Escola de Engenharia da Universidade Mackenzie. Consultor independente de transporte nas áreas de tecnologia. É membro da UITP, do Instituto de Engenharia, da ANTP (onde é diretor técnico da Revista Técnica de Transportes Públicos) e da AEAMESP, com inúmeros artigos publicados em revistas especializadas do Brasil e do exterior.
Plinio Assmann - engenheiro pela escola Politécnica da USP, assumiu em 1971 a Presidência do Metrô de São Paulo onde ficou até 1977. Neste período dirigiu a construção e implantação da operação da primeira linha de Metrô do Brasil e deu início à construção da segunda linha. Fundou a Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) e a presidiu em 1973. Presidiu em 1978 o Conselho da Cia. do Metrô do Rio de Janeiro. Foi secretário de Transportes do Governo de S. Paulo na gestão Mário Covas. Presidiu o Instituto de Engenharia de 1983 a 1984. Foi também presidente da COSIPA.
Tadashi Nakagawa – Graduado em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, com pós-graduação em Engenharia de Telecomunicações pela NTT (Nippon Telephone Telegraph) – Japão e pós-graduação em Engenharia de Sinalização pela JNR (Japonese National Railway) – Japão. Atuou como Responsável Técnico nos Projetos Executivos e Especificações nas áreas da Engenharia Elétrica, Sistema de Sinalização, Telecomunicações, Supervisão e Controle Centralizado de Tráfego de Trens e Energia Elétrica da Companhia do Metropolitano de São Paulo. Na Trends Engenharia e Tecnologia Ltda. e na BRAIN Engenharia Ltda., ocupou o cargo de Diretor Técnico, sendo responsável técnico por diversos projetos de sistemas e de material rodante aplicados a Sistemas de Transportes Metro-Ferroviários. Atualmente ocupa o cargo de Diretor Executivo na Headwayx Engenharia Ltda.
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