Em artigo, dois pesquisadores norte-americanos mostram porque o modelo de mobilidade baseado no automóvel não tem futuro. - No mês passado, a população de Los Angeles, nos EUA, manifestou-se contra a adição de mais pistas a uma rodovia; um movimento inesperado em uma cidade que erroneamente pensou por anos que mais pistas significariam menos engarrafamentos.
Justin Gillis / Hal Harvey*
Trânsito na Interstate 405 logo após sua ampliação, em 2015 créditos: Patrick T. Fallon/ Bloomberg |
Pouco antes, o mais alto tribunal da Alemanha decidiu que os carros a diesel poderiam ser banidos dos centros das cidades para limpar o ar. Lembre-se, a Alemanha é a terra onde a tecnologia a diesel foi inventada - e a Volkswagen, a maior fabricante de automóveis do mundo, investiu pesado para empurrar os carros aos consumidores antes de ser pega mentindo sobre suas emissões. Após a sentença judicial, a direção da Volkswagen se declarou "incapaz de compreender" a decisão.
Esses eventos ocorreram a quase 10 mil km de distância, em diferentes contextos políticos, mas estão conectados. Tanto o público quanto alguns dos mais ousados líderes políticos norte-americanos estão despertando para a realidade de que simplesmente não podemos continuar colocando mais carros nas cidades.
Um século de experiência nos ensinou a loucura disso. Surgem três patologias:
1. Primeiro, todo carro se torna o inimigo de todos os outros. O carro que você mais odeia é aquele que está bem na sua frente e não se move. Conforme os carros se acumulam, os tempos de viagem e a poluição aumentam.
2. Em segundo lugar, depois de um certo ponto, mais carros tornam a cidade um lugar menos agradável para os transeuntes, ciclistas e pessoas que tomam o transporte público para seus destinos. Os carros afastam e impedem as crianças de brincar ao ar livre, e roubam a possibilidade de tardes tranquilas lendo em um banco ou em cafés na calçada. Assim, abandonamos nosso espaço público, nossas conversas de vizinho para vizinho e, finalmente, nossa mobilidade pessoal para o próximo carro e o próximo.
3. E então surge o fato estranho, contraintuitivo, de que construir mais vias realmente não resolve o congestionamento e pode até piorar a situação. O problema, como os especialistas perceberam a partir da década de 1930, é que, assim que você constrói uma rodovia ou adiciona faixas a uma rodovia, os carros aparecem para preencher a capacidade disponível. O fenômeno é tão bem compreendido que tem um nome: demanda de tráfego induzida.
Os dois autores pediram à Inrix, empresa que coleta dados rodoviários sofisticados, para analisar dois projetos viários americanos relativamente recentes: a expansão de US $ 1,6 bilhão da Interstate 405 em Los Angeles e a expansão de US $ 2,8 bilhões que fez a Katy Freeway em Houston, uma seção da Interstate 10; a mais larga do mundo, com 26 faixas de diâmetro.
Após a expansão da I-405, os dados mostram que os tempos de viagem pioraram nas horas de ponta da manhã e da tarde. A expansão da Katy Freeway gerou resultados ligeiramente melhores, especialmente à noite, embora o efeito fosse pequeno nas faixas oeste. A viagem matinal piorou em ambas as direções.
Os responsáveis por esses projetos argumentarão que com o tráfego crescendo, as rodovias estariam ainda piores se não tivessem sido ampliadas. Ainda assim, esses resultados não são bons o bastante para justificar o investimento de enormes somas de dinheiro público. Acreditamos que os bilhões destinados a esses tipos de projetos poderiam ser mais bem gastos na conservação das estradas e pontes que já temos.
*Justin Gillis trabalha em um livro sobre mudanças climáticas. Hal Harvey é o CEO da empresas de pesquisa Energy Innovation.
Tradução de Marcos de Sousa, do Mobilize Brasil
Fonte - Mobilize Brasil 26/04/2018
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