quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Petrobras não está quebrada e tem futuro brilhante

Entrevista

Fernando Siqueira,vice-presidente da Aepet,fala das ótimas perspectivas de produção petrolífera no Brasil e questiona os argumentos que sugerem a quebra da Petrobras.Além de dizer a quem interessa tirar a exclusividade da Petrobras da exploração do pré-sal, ele comenta o panorama mundial e afirma que Brasil, Venezuela, Irã e os Brics (bloco econômico que reúne Brasil, Rússica, Índica, China e África do Sul) são alvo da mesma estratégia geopolítica dos países desenvolvidos que não possuem reservas de combustível fóssil.

Escrito por Solange Santana - Portogente
Foto - ilustração/arquivo
A defesa do monopólio estatal do petróleo, da Petrobras e de seu corpo técnico são os principais objetivos da Associação de Engenheiros da Petrobras (Aepet). Seu vice-presidente, Fernando Siqueira, fala das ótimas perspectivas de produção petrolífera no Brasil e questiona os argumentos que sugerem a quebra da Petrobras. Além de dizer a quem interessa tirar a exclusividade da Petrobras da exploração do pré-sal, ele comenta o panorama mundial e afirma que Brasil, Venezuela, Irã e os Brics (bloco econômico que reúne Brasil, Rússica, Índica, China e África do Sul) são alvo da mesma estratégia geopolítica dos países desenvolvidos que não possuem reservas de combustível fóssil.

Portogente - A Petrobras está quebrada? A situação da empresa é tão caótica em relação às grandes petrolíferas estrangeiras?

Fernando Siqueira - A Petrobras não está quebrada. Ela teve, em 2015, um lucro bruto de R$ 98,5 bilhões e um lucro líquido de R$ 14 bilhões. Mas por exigência da auditora americana PWC (raposa no galinheiro), ela desvalorizou seus ativos em R$ 49 bilhões, gerando um falso rombo de R$ 35 bilhões. As justificativas dessa baixa contábil são as perdas com a queda do preço do petróleo, mas a Exxon/Mobil, por exemplo, não fez nada disso. A Shell tem uma dívida igual à da Petrobrás, mas tem reservas cinco vezes menores. A Petrobrás já descobriu 50 bilhões de barris nos campos de Tupi, Iara, Búzios, Carcará e outros. A Shell tem reservas de cerca de 10 bilhões de barri, apenas. A Petrobrás está melhor do que todas as empresas do cartel. Tem mais reservas e melhor tecnologia do que elas.

Portogente - Quais as perspectivas do Brasil na produção de petróleo?
Fernando Siqueira - São as melhores. O instituto de Geologia da Uerj prevê que a reserva do pré-sal pode se situar entre 178 e 280 bilhões de barris (segunda ou terceira do mundo). A Petrobras já descobriu cerca de 50 bilhões de barris dessas reservas; produz cerca de 1,5 milhão de barris equivalentes por dia (óleo + gás) no pré-sal. Em 2015, ela ganhou, pela terceira vez - fato inédito entre as petroleiras mundiais - o prêmio máximo da indústria do petróleo pelo seu domínio da tecnologia em águas ultra profundas, aplicada no pré-sal; o custo total de produção no pré-sal, incluindo impostos royalties, amortizações e outros, caiu de US$ 40 por barril, em 2013, para US$ 20 em maio de 2016. No mesmo período, o custo de extração (considerando a infraestrutura toda montada e abstraindo dos custos externos), caiu para US$ 7,50 por barril. Ambos os custos continuam caindo em face do conhecimento técnico da Petrobras e da produtividade do pré-sal.

Portogente - Há semelhanças entre o Brasil e a Venezuela na geopolítica mundial do petróleo?
Fernando Siqueira - Podemos dizer que há muitas. A Venezuela tem a maior reserva do planeta e fica fora da zona conflituosa do Oriente Médio; o Brasil tem a segunda ou terceira reserva do mundo e fica também na América Latina.
Os países desenvolvidos têm uma brutal insegurança energética devido à alta dependência do petróleo e por não possuírem reservas. Querem as nossas, pagando barato.
Na década de 1990, os EUA, junto com a Arábia Saudita, derrubaram o preço do petróleo para US$ 13 dólares e desmontaram a União Soviética, cuja renda tem 50% de sua origem no petróleo e estava dominando a Europa, dependente do seu petróleo e gás. Agora estão repetindo essa estratégia, pois os BRICS, que têm na Rússia o principal suporte tecnológico, são uma ameaça à hegemonia americana: criaram um banco de desenvolvimento com um fundo de US$ 100 bilhões e pretendem criar uma moeda alternativa ao dólar. Mortal para os EUA. Sadham foi assassinado por isto. A Arábia Saudita, aliada aos EUA, não reduziu sua produção conforme solicitado pelos parceiros da OPEP. Em vez disso, aumentou-a em 1 milhão de barris por dia e fez com que o petróleo caísse de US$ 115 para US$ 45 por barril. Com isto, Rússia, Venezuela e Irã se enfraqueceram economicamente. Além disto, o pré-sal deixou de ser o grande trunfo que o Brasil tem para deixar de ser o eterno país do futuro, segundo uma campanha insidiosa da mídia, que faz o jogo do mercado e engana os brasileiros. E minou economia da Petrobras que está sendo desmantelada pelo senhor Pedro Parente através da venda de ativos estratégicos.
Intensa campanha foi deflagrada para mudar o marco regulatório que resgatava o interesse do País em detrimento da lei de concessão que dá todo o petróleo para quem produz, gerando "o pior contrato de concessão do planeta". Aproveitaram as denúncias da lava-jato e passaram a defender a privatização "para eliminar a corrupção do petrolão. Irônico, porque as empresas capazes de produzir o pré-sal são as empresas do cartel internacional, que são as mais corruptas e mais corruptoras do mundo: derrubam, matam ou prendem lideranças que nacionalizaram petróleo: Mohamed Mossadeg, no Irã, Enrico Mattei, na Itália; e Jaime Roldós (Equador), são exemplos antigos. Sadham Hussein e Muamar Kadafi são exemplos recentes dessa ação predatória. Conforme mostrou o Widileaks, eles atuam dentro do Congresso.
Portanto, Brasil, Venezuela, Irã, Rússia (e os BRICS) são alvo da mesma estratégia geopolítica dos países hegemônicos petróleo- dependentes. Derrubaram Dilma Rousseff não pelos seus grandes erros, mas pelos seus acertos em defesa do Brasil. Estão sabotando o Maduro o tempo todo.

Portogente - A Petrobrás não tem condições técnicas e econômicas de explorar o pré-sal?
Fernando Siqueira - Falácia gigantesca. A Petrobras tem mais condição do que qualquer outra empresa do setor para produzir o pré-sal, tecnologicamente falando. Economicamente também a empresa tem condições excepcionais, pois tem reservas, já descobertas, de cerca de 50 bilhões de barris. A US$ 50 por barril são US$ 2,5 trilhões. O custo total de produção, como já dito, é de US$ 20 por barril. Por outro lado, a dívida líquida da empresa é da ordem de US$ 90 bilhões, irrisória diante do grande patrimônio da Companhia. Vale lembrar que a Shell perfurou o campo de Libra até 3990m e o devolveu à ANP como subcomercial. A Petrobras perfurou Libra e achou o maior campo do mundo. Se não fosse a Petrobras, Libra e o pré-sal não teriam sido descobertos.

Portogente - Por que o governo Temer e seus aliados no Congresso defendem a entrega das nossas reservas na camada pré-sal?
Fernando Siqueira - O golpe dado no País, reconhecido até pelo Papa Francisco, foi para colocar no Governo os vendilhões da Pátria. A maioria deles envolvidos e citados na Lava-jato. O programa do PMDB "A Ponte para o futuro(...dos EUA)" prevê isto. O Serra, segundo o Wikileaks, prometeu à Chevron que, se eleito presidente, derrubaria a Lei de Partilha. Eleito senador fez o projeto PLS 131, ou 4567 na Câmara, que tira a Petrobras do Pré-sal; Temer colocou na Petrobras o Pedro Parente, que no período 1999 a 2003, como presidente do Conselho de Administração da Petrobras, participou de um trabalho de desmonte da Companhia para desnacionalizar, chegando a mudar o nome para Petrobrax. Agora está retomando esse projeto, vendendo os ativos mais estratégicos para consumar o trabalho. Vendeu a malha de gasodutos do Sudeste (60% do transporte de gás do país), um monopólio natural, para grupo estrangeiro, Brokfield, formado por fundos especuladores (abutres?) internacionais. A Petrobras será refém deles.

Portogente - A quem interessa que seja sancionado o Projeto de Lei 4567/16, de autoria do então senador José Serra (PSDB), que desobriga a Petrobras de ser a operadora na exploração do pré-sal, no regime de partilha?
Fernando Siqueira - Como mencionado acima, aos países hegemônicos que precisam de petróleo, mormente os EUA, que tem uma reserva de 40 bilhões de barris, incluindo o Shale gás, e consomem cerca de 10 bilhões por ano. E as suas empresas (Anglo-americanas) que formam o cartel internacional do petróleo. Elas já dominaram 90% das reservas mundiais e, hoje, dominam menos de 5%. Precisam de reservas para sobreviver.
Desobrigada, a Petrobras nem participará dos leilões, pois o Sr. Parente vendeu um dos melhores campos do pré-sal, o Carcará, já descoberto, com três poços perfurados e comprovado, o que a Petrobras irá fazer nos novos leilões? Nada. O pré-sal, portanto, irá ficar livre para as empresas internacionais mais corruptas do planeta. Elas terão imensos lucros com o pré-sal. Todos os países que entregaram o seu petróleo para elas estão na miséria – Ângola, Gabão, Nigéria e outros.

Portogente - O que o senhor acha de uma Petrobras 100% estatal?
Fernando Siqueira - Acho que não é bom. Apenas o Governo deve deter a maioria das ações com direito a voto. A Noruega, que era o segundo país mais pobre da Europa, descobriu o petróleo no Mar do Norte, criou a Statoil, que tem ações no mercado, mas o governo tem maioria, ela trabalhou bem e a Noruega passou a ser o país mais desenvolvido do mundo, o melhor IDH dos últimos cinco anos. Ser 100% estatal gera muita interferência (espúria) dos políticos e do governo. Nossos governantes estão longe de ter credibilidade para isto. Aliás, estive estudando a forma de governo do Brasil. E concluí: não é democracia, pois vivemos as ditaduras da mídia, dos políticos corruptos e da morosidade do Judiciário. Pesquisando no Wikipedia acabei achando o verdadeiro regime político: Plutocleptocracia: Governo de corruptos sustentado pelos ricos do "Mercado". Segundo o americano John Perkins, (ver no Youtube) o mercado é a corporatocracia americana, ou seja, o complexo financeiro/petroleiro/armamentista/CIA. Eles, coordenados pelo CFR - Conselho de Relações Internacionais, estabelecem a (Des)ordem mundial. A favor deles, claro. Por isto é preciso criar a “Jet Wash” – lava-jato internacional para inibir as compras de líderes nacionais.
Fonte - Portogente  27/10/2016

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