Meio ambiente 🌱
Para evitar tragédias como a que ocorreu no Pantanal em 2020, quando quase 30% do bioma foi queimado, pesquisadores alertam para a necessidade de um manejo adequado das áreas mais propícias ao fogo no país. A recomendação é parte de um estudo apoiado pela FAPESP e publicado na revista Perspectives in Ecology and Conservation.
foto - ilustração/arquivo |
Manejo integrado
Desde 2014, o Brasil conta com uma estratégia chamada Manejo Integrado do Fogo (MIF). Em algumas unidades de conservação de Cerrado, queimadas controladas na época úmida, entre maio e junho, reduzem a quantidade de material de fácil combustão e diminuem o risco de incêndios florestais na época seca, a partir de julho. A estratégia, porém, não foi amplamente implementada no país. Um projeto de lei está parado no Congresso desde 2018 para regulamentar o que seria a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo. Além disso, o MIF não é utilizado em áreas particulares, que correspondem a 44,2% das terras no Brasil. Os pesquisadores apontam a necessidade de desenvolvimento de uma estratégia geral clara para lidar com o fogo também nessas terras, permitindo o uso controlado quando for benéfico e evitando-o quando os efeitos negativos forem maiores. O Parque Nacional das Sempre-Vivas, na região de Diamantina, Minas Gerais, é um exemplo de aplicação dessa estratégia. As sempre-vivas são pequenas flores típicas da região e fontes de subsistência para os moradores locais, que realizam junto com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) o manejo das plantas usando o fogo. Acredita-se que ele estimule a produção de mais flores. “Porém, é muito importante observar como utilizar esse fogo e a quantidade de flores que pode ser retirada para garantir a continuidade de todas as espécies”, destaca Pivello. Outras unidades de conservação no Cerrado onde queimas controladas ajudam a evitar incêndios são a Área de Proteção Ambiental do Jalapão e a Estação Ecológica Serra Geral, ambas no Tocantins; e os parques nacionais da Chapada das Mesas, no Maranhão, da Chapada das Emas e da Chapada dos Veadeiros, em Goiás (leia mais em: revistapesquisa.fapesp.br/refazendo-o-cerrado/). “Mas mesmo os ecossistemas adaptados respondem de formas diferentes ao fogo. Há uma série de critérios que determinam se a queimada será boa ou ruim para uma determinada área. E o homem vem alterando os regimes de fogo”, diz a pesquisadora. As queimadas naturais ocorrem em um intervalo de alguns anos, geralmente iniciadas pela queda de raios das chuvas do início do verão. Nessa época, a vegetação está mais úmida e o fogo não se alastra, formando mosaicos de áreas verdes e áreas queimadas, favorecendo a biodiversidade. Quando a queima é provocada pelo homem todos os anos, ainda mais na estação seca, podem ocorrer incêndios de grandes proporções que ameaçam a biodiversidade e mesmo a saúde humana. Por isso, a ideia do trabalho é alcançar não apenas a comunidade científica, como também gestores e formuladores de políticas públicas. Para ajudar a evitar que novas tragédias como a do Pantanal se repitam e ações preventivas sejam tomadas, os pesquisadores disponibilizam não só o artigo em acesso aberto, como um sumário executivo, em português, resumindo as principais informações necessárias para a tomada de decisões.
O sumário executivo, em português, pode ser baixado em: https://bit.ly/3ycbhlC.
Já o artigo Understanding Brazil’s catastrophic fires: Causes, consequences and policy needed to prevent future tragedies, de Vânia R. Pivello, Ima Vieira, Alexander V. Christianini, Danilo Bandini Ribeiro, Luciana da Silva Menezes, Christian Niel Berlinck, Felipe P.L. Melo, José Antonio Marengo, Carlos Gustavo Tornquist, Walfrido Moraes Tomas e Gerhard E. Overbeck, pode ser acessado em: www.perspectecolconserv.com/en-understanding-brazils-catastrophic-fires-causes-avance-S2530064421000560.
Fonte - Revista Amazônia 31/07/2021
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