Ponto de Vista 🔍
Em entrevista ao programa Fox Business, em 24 de janeiro, Bolton afirmou que os Estados Unidos “tem muito em jogo” na crise política da Venezuela, citando especificamente o petróleo. Explicou ainda que haveria grande diferença para os Estados Unidos se as companhias petrolíferas americanas pudessem investir e refinar o produto diretamente na Venezuela. Bolton deixa claro que não se trata somente de derrubar um líder autoritário, e proteger a democracia e os direitos humanos. A força motriz da intervenção é o interesse nas imersas reservas de petróleo venezuelanas.
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Um dia antes, em 23 de janeiro, Juan Guaidó, líder oposicionista, Presidente da Assembleia Nacional venezuelana e autoproclamado Presidente interino do país, fora reconhecido como tal pelos Estados Unidos, Brasil e Argentina. O Parlamento Europeu reconheceu o Presidente interino em 31 de janeiro e, se Maduro não convocar novas eleições, o Parlamento pede que os países do bloco façam o mesmo.
Em 2016, o governo Obama já havia instruindo funcionários da Casa Branca e veteranos de guerra no Equador para atuar em missões na Venezuela, preparando terreno para o que estamos presenciando atualmente. O momento certo de uma investida dependia de uma conjuntura geopolítica favorável. O que se concretizou com a eleição e posse de Jair Bolsonaro no Brasil.
No Equador, país que também é membro da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) assim como Venezuela, a relação foi ligeiramente diferente. Rafael Correa transformou as relações de exploração de petróleo pelas petrolíferas de regime de parcerias para regime de prestação de serviço, diminuindo consideravelmente os lucros das estrangeiras, inclusive as americanas. Uma disputa que só terminou com a eleição de Lenín Moreno que, apesar de ser do mesmo partido do ex-Presidente Rafael Correa, subverteu o plano político e econômico traçado pela Alianza PAIS e tornou-se mais próximo dos Estados Unidos abrindo diversos canais de acordos de cooperação.
Na Venezuela, não se considera a possibilidade de mudança de governo, muito menos acordos que beneficiem os interesses estadunidenses, como ocorreu no Equador. Aos Estados Unidos restaram outros caminhos, operações políticas e uma estratégia abrangente, que inclui certos tipos de diplomacia multilateral, apoio a partidos ou forças políticas estrangeiras e apoio ou trabalho com organizações internacionais.
*Letícia Cristina Bizarro Barbosa, doutora em Sociologia Política e Cientista de Análise de Dados e Redes Sociais (ARS). Membro do Grupo de Trabalho “Estudos sobre Estados Unidos” da CLACSO. Pesquisadora do Instituto Homo Serviens (IHS) e do Núcleo de Estudos Sociopolíticos do Sistema Financeiro (Nesfi) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Fonte - Portogente 26/02/2019
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