JB
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Embora o texto admita que o jeitinho brasileiro também esteja presente entre os mais ricos, é nos mais pobres que ele se mostra com força. Isso porque, segundo a matéria, os que sofreram uma batalha sangrenta no passado sabem o que é a economia de guerra. Ou seja, os mais pobres, “que sempre foram maioria no Brasil”, não podem hoje ser acusados de resignados, já que o poder segue os negando o essencial, como viver em uma sociedade com igualdade de direitos.
Para esses, com seus direitos renegados, “mais vale um pássaro na mão do que dois voando”, de acordo com o artigo do El País. E é aí que se mostra o jeitinho brasileiro: eles poderiam estar dispostos a derrubar o poder e ocupar a cidade rica, daqueles que não necessitam de jeitinhos porque lhes sobram recursos e apoios políticos. Mas não o fazem porque possuem esse “pássaro na mão”, que oferece a sensação de que algo está melhorando. No entanto, o artigo acredita que, pouco a pouco, é possível que os brasileiros percebam que melhor que o jeitinho é poder atuar como um cidadão pleno, com direitos e deveres, em uma sociedade que funcione para todos, como foi visto nas manifestações de junho.
Surpreende que tal artigo venha de um jornal espanhol, país cuja população passou 40 anos sendo oprimida pela ditadura de Francisco Franco. Não houve injustiça maior do que a ditadura franquista, e não houve "jeitinho espanhol" nenhum para contornar as dificuldades. Pelo contrário: Franco sequer deixava que seu país se comunicasse com o mundo. Não havia importações, cinemas não passavam filmes estrangeiros, havia apenas dois canais de televisão e também apenas dois jornais - um da monarquia, chamado ABC, e outro do próprio Franco.
O autor da reportagem do El País talvez tenha memória curta, ou tenha vivido no exílio. Não conheceu a repressão sanguinária do seu país. Uma repressão tão violenta que teve no episódio do assassinato do almirante Carrero Blanco um dos mais emblemáticos. No dia 20 de dezembro de 1973, um atentado acabou com a vida do então presidente do governo da Espanha. A explosão foi tão violenta que seu carro voou pelos ares, atingindo 40 metros de altura e passando por cima de um prédio de cinco andares.
Falta autoridade ao país que sofreu uma severa repressão por quase 40 anos - e que passou por uma guerra que matou quase 10% de sua população - para que se faça qualquer tipo de crítica a desigualdades e dificuldades que resultem no "jeitinho brasileiro".
Fonte - Jornal do Brasil 02/01/2014
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