quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Da tração animal à eletricidade: conheça a evolução dos bondes em Porto Alegre

Transportes sobre trilhos/Bondes  🚃

A bem da verdade, o primeiro meio de transporte coletivo da cidade foi a maxambomba (corruptela da expressão machine pump ou bomba de máquina, em inglês). Em tese, compunha-se de uma pequena locomotiva a vapor, que arrastava dois ou três vagões, como as que transitavam no Rio de Janeiro e no Recife. Mas, em Porto Alegre, a pioneira linha Menino Deus era puxada por burros, e não por uma máquina

Gaucha ZH
Foto/Divulgação
No dia 10 de março de 1908, a modernidade invadiu as ruas de Porto Alegre com a chegada dos bondes elétricos, deixando para trás a era dos coletivos puxados por burros ou mulas, que circulavam pelas vias poeirentas da Capital desde meados do século anterior. A bem da verdade, o primeiro meio de transporte coletivo da cidade foi a maxambomba (corruptela da expressão machine pump ou bomba de máquina, em inglês). Em tese, compunha-se de uma pequena locomotiva a vapor, que arrastava dois ou três vagões, como as que transitavam no Rio de Janeiro e no Recife. Mas, em Porto Alegre, a pioneira linha Menino Deus era puxada por burros, e não por uma máquina, ainda que também fosse chamada de maxambomba pela população (quem sabe o termo estivesse na moda). Os veículos pertenciam a um empresário local, Estácio Bittencourt, fabricante de carruagens e timburis (carros de duas rodas). Provavelmente, tenham sido produzidos em sua oficina, localizada defronte à Várzea (atual Parque da Redenção). Pesados e barulhentos, saíam com frequência dos trilhos de madeira. Como se fosse pouco, ao desembarcar do trenzinho puxado por dois lerdos burros, que iam pondo a alma pela boca, o passageiro sentia-se quase morto, como relata o cronista Achilles Porto Alegre: Doía-lhe o corpo todo, desde os pés à cabeça, como se houvesse levado uma camaçada de pau. Em 1872, Bittencourt desistiu do negócio e os vagões foram vendidos para a companhia que operava o transporte público em Rio Grande. No ano seguinte, passaram a circular na Capital os primeiros bondes da Companhia Carris de Ferro Porto-Alegrense, também de tração animal, porém, menos desconfortáveis em relação ao modelo anterior. Ainda assim, não eram as viagens mais agradáveis do mundo, especialmente em dias de aguaceiro, quando as vias ficavam quase intransitáveis. Há registro de que um dos expressos da Carris teria partido às 18h da Praça da Alfândega para chegar só à meia-noite ao fim da linha, junto à igrejinha do Menino Deus. Por essas e outras, a entrada em operação dos bondes elétricos nas linhas Menino Deus, Glória, Teresópolis e Partenon foi bastante comemorada. Ela foi possível graças à fusão da Companhia Carris de Ferro e da Carris Urbanus, que, juntas, ficaram responsáveis tanto pelas linhas do transporte coletivo eletrificado quanto pelo fornecimento de energia elétrica para os porto-alegrenses. Como toda novidade, os bondes elétricos também davam medo. Algumas pessoas evitavam pisar nos trilhos de ferro, com receio de levar um choque elétrico fatal. Ao final das contas, o saldo era positivo. Se os bondes puxados por burros dispunham de um lampião para iluminar o caminho, os eletrificados ostentavam portentosos faróis, que não apenas desfaziam a escuridão como embelezavam a paisagem noturna da cidade. No pacote adquirido junto à empresa inglesa United Eletric, a principal atração era o chope duplo, como foi apelidado o double-deck, de dois andares, com capacidade para até 62 passageiros - 28 embaixo e 34 na parte superior. A Capital chegou a contar com quatro modelos de chope duplo, até que, em 1921, eles foram decapitados nas oficinas da Carris, sendo transformados em bondes comuns. Exemplo de eficiência e sustentabilidade no transporte coletivo, os veículos elétricos circularam até 8 de março de 1970, quando o último bonde de Porto Alegre foi recolhido ao depósito da Carris. - Gaucha ZH
Fonte - Revista Ferroviária  06/01/2021

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