sábado, 28 de dezembro de 2019

Monotrilho de Salvador - Verdades e Mentiras

Ponto de Vista  🚄

O debate em torno do Monotrilho do Subúrbio ferroviário de Salvador e RMS,não pode ser contaminado por interesses pessoais,políticos ou de qualquer outra natureza.O tema envolve o interesse público relativo a uma população de mais de 600 mil pessoas que já pagam uma tarifa de R$4,00 por um "péssimo" e lastimável serviço de transportes por ônibus, chegando a perder até 4h por dia dentro do sistema,nas suas idas e vindas para o trabalho e outras atividades cotidianas.

Luis Prego Brasileiro
foto - ilustração
Desde quando foi anunciado pelo Gov. do Estado o resultado da licitação para implantação de um novo sistema de transportes sobre trilhos,Monotrilho,para substituir os velhos,antigos e desgastados trens(com mais de 6 décadas em serviço),que operam atualmente  em condições bastante precárias,o novo modal vem sendo questionado e sofrendo ataques,por alguns pequenos grupos,com argumentos frágeis,inconsistentes e sem base técnica,uns por falta de conhecimento no assunto, outros talvez até por má fé.
Antes porem gostaríamos de fazer aqui algumas considerações iniciais com relação a insistência do Gov. do Estado em chamar o Monotrilho de VLT. Essa atitude em nada favorece o novo modal e apenas serve para criar uma grande confusão na cabeça do povo leigo no assunto. VLT(veículo de superfície) sigla em português que significa Veículo Leve sobre Trilhos,e não Veículo Leve de Transportes(deve ser bicicleta) como erroneamente vem sendo rotulado pelo Gov.do Estado.Na Europa e em vários outros países pelo mundo usa-se a sigla internacional LRV (Light Rail Vehicle) que traduzindo para o português significa,Veículo Leve Ferroviário.Os VLTs são também habitualmente chamados em países da Europa a expl. da França de Tramway(Bonde), ou abreviado para Tram em outros locais.

Desmistificando

1º) Rodas de Borracha 
O argumento de linha de frente dos que questionam o monotrilho é o fato do mesmo usar rodas de borracha(pneus),tentando com esse argumento descaracteriza-lo como veículo ferroviário. Desconhecem eles ou fingem não saber que várias importantes linhas de Metrô no mundo e de VLTs(os chamados VLPs) usam composições com rodas de borrachas,podemos citar aqui alguns metrôs a expl. de Montreal, Lille,Toulouse,Cidade do México,Metro de Paris e Lyon na França e o Metro de Santiago do Chile,e nem por isso perderam a sua característica de veículo ferroviário ou são considerados menos importantes do que os seus similares que usam trilhos e rodeiros de ferro. Portanto trata-se de um argumento frágil,inconsequente e sem nenhuma importância.
Quanto aos VLTs (VLPs) podemos aqui citar os de Clermont Ferrand e Caen (França), Pádua (Itália) e Tianjin, Teda e Shangai (China),entre tantos outros.
Que diferença fará para o morador do subúrbio,(que será transportado em um veículo climatizado,com segurança,conforto,rapidez e eficiência,longe dos costumeiros e diários engarrafamentos,acidentes de trânsito e até assaltos durante a sua viagem),se a roda do trem for de ferro ou de borracha?!

Metrô com pneus - Lyon/França
Metrô com pneus - Paris/França











VLT(VLP) - Clermont Ferrand/França
VLT(VLP) Caen França










2º) Custo 
O segundo argumento que usam para questionar o monotrilho de Salvador é o valor da obra (completa),material rodante incluso,orçada em R$1.5 bi. ou(R$75 mi por Km/construído), para a linha com 20 km/21 estações, saindo do bairro do Comercio(T.da França) na zona portuária da cidade,passando pela região do subúrbio,chegando a RMS na Ilha de São João em Simões Filho.
Fazendo uma analogia com o custo,ainda em 2016, da linha 15 Prata do monotrilho de São Paulo que já naquele ano o Km/construído chegava aos R$354 mi.,enquanto o Monotrilho de Salvador o KM/construído  será  de R$75.mi,ou seja aproximadamente 1/5 do valor do Km/construído da linha 15 Prata de São Paulo em 2016,concluímos que não há motivos para alardes. Falar que o custo do Monotrilho de Salvador será "exorbitante" pode-se dizer até que é uma heresia.
A obra do monotrilho de São Paulo está sendo tocada pelo Gov. de SP e a construção dividida em lotes entre várias empresas,parte de estruturas,estações e fornecimento de trens,e a operação poderá ficar  a cargo do Metrô de São Paulo ou ser licitada para uma empresa privada após a conclusão da linha.
O Monotrilho de Salvador,uma PPP já licitada,a empresa BYD vencedora do certame, ficara responsável pela construção,fornecimento dos trens e a operação do sistema por 20 anos.

3º)Impacto Urbano
Diferente do monotrilho de São Paulo cujas estruturas muito mais pesadas chegam a 15 metros de altura,o sistema proposto pela BYD apresenta estruturas bem mais leves e com a altura reduzida de 3 metros, devendo elevar-se um pouco mais em casos específicos para transposição de obstáculos ou passagens de nível onde seja necessário uma altura maior.Leve-se em consideração que a maior parte do trajeto será sobre a atual via permanente do trem.
Um outro fato significativo é que o monotrilho,por ser suspenso, acabará com isolamento não só das comunidades de borda da orla do Subúrbio,provocado pela  via permanente do sistema de trens, restringindo atualmente a travessia da linha, com redução de riscos de acidentes,em poucos locais onde existem as chamadas passagem de nível.
O espaço livre embaixo da estrutura do monotrilho poderá e deverá ser utilizado ao longo de toda linha litorânea,como área de interatividade para as comunidades,com a implantação de áreas de lazer, esportes, gastronomia,espaços culturais e a implantação de ciclovias.

monotrilhos de São Paulo
modelo do monotrilho de Salvador


4º) Tarifa
Uma outra questão que vem sendo questionada pelos grupos que se opõe ao monotrilho é quanto o preço da tarifa,alegam eles que a atual tarifa do trem de R$0,50 subirá para R$4,00. Sem contar a população da RMS(Simões Filho),que também será beneficiada pelo novo modal, cerca de 600 mil pessoas que habitam no subúrbio irão se beneficiar com a implantação do monotrilho.
Atualmente o atual sistema de trens do subúrbio transporta apenas 12 mil passageiros por dia,sendo 6 mil de ida e 6 mil de volta,o que significa que apenas 2% da população total do subúrbio paga hoje uma tarifa de R$0,50,os 98% restantes já pagam R$4,00 por um péssimo serviço de transportes por ônibus,sendo transportados em veículos velhos,sem conforto,superlotados,sujos,sujeitos a atrasos de viagens,engarrafamentos e assaltos,com viagens longas e demoradas,ainda sujeito a ocorrência de acidentes.
Se o monotrilho já estivesse em operação os "clientes" do sistema pagariam uma tarifa de R$3,70 por uma viagem única no monotrilho,ou R$4,00 por uma viagem integrada, ônibus, Monotrilho, ônibus, assim como já ocorre atualmente no sistema Metroviário de Salvador.
Com relação a população mais carente que usa atualmente o trem e paga R$0,50, o Gov. do Estado deverá elaborar um estudo para criar algum mecanismo ou ação compensatória,que possa atender a essa parcela da população.

5º)Recuperação do atual sistema de trens
Não é tão fácil e menos custoso como alardeiam os opositores do monotrilho a recuperação do atual sistema,como se fosse simplesmente colocar algumas composições novas em operação na linha e estaria resolvido o problema.
Não é assim tão fácil nem tão pouco muito barato.O atual sistema já muito desgastado e sem ter sofrido nenhuma modernização ao longo de décadas,terá que ser totalmente reconstruído.Para que se possa ter um sistema com mais agilidade e mais velocidade será preciso substituir a atual bitola métrica,que limita a velocidade dos trens em 60 km/h, por uma bitola larga de 1,43,para que os trens operem com mais segurança e com uma velocidade maior. Modernizar as atuais sub-estações existente e a construção de mais outras para que juntas possam suportar uma carga de 20 composições ou mais(equivalente ao monotrilho), em operação tipo carrocel.Implantação de um sistema moderno de sinalização  e controle(O anjo da guarda dos trens),vital para uma operação segura e eficiente,construir a via férrea dupla, entre Paripe  e Simões Filho(Ilha de São João),reformar e construir algumas novas estações,construção de um novo patio de manobras e mais o depósito e oficina de manutenção para os trens. E como chegar com um "trem pesado" no Comercio a não ser por meio de um elevado saindo da Calçada ao Terminal da França?...Quanto custaria tudo isso?,talvez pelo baixo uns R$3 bi(?), e de onde viria o financiamento para tudo isso?....nas atuais circunstâncias,apontem a fonte.
Alegar que a via férrea passou por reformas e que recursos foram gastos para isso é mais uma grande  balela,não fossem feitas  manutenções básicas, preventivas e obrigatórias no sistema, hoje não teríamos sequer um "trole" circulando na linha,fora os riscos de acidentes graves em função da falta de manutenção.
Quanto uma futura implantação de um sistema de trens Intercidades,o mesmo deverá partir de uma estação integrada ao monotrilho próxima a Paripe ou em Simões Filho,diminuindo os custos de operação e manutenção do sistema.

trem ACF/GE da CTB/Salvador
Considerações finais
A nossa abordagem não tem cunho político ou partidário, nem sequer o monotrilho faz parte da nossa preferência pessoal, mais entendemos que não temos o direito de colocar as nossas vaidades, preferências ou interesses pessoais, sejam eles de quaisquer natureza, acima de um interesse maior, ou seja,"acima do interesse público", seria uma atitude desonesta e desleal, penalizar uma população que sofre diariamente as consequências de um sistema de transportes ruim,de péssima qualidade em todos os sentidos,e não pode e não deve ser privada de poder contar com um sistema no mesmo nível do Metrô,que já opera na outra parte da cidade.A população do Subúrbio também tem os mesmos direitos e merece respeito.
Salvador Sobre Trilhos  28/12/2019

Um comentário:

  1. Obrigado pelos esclarecimentos , isso deveria sair nos jornais da CIDADE.

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