quinta-feira, 22 de maio de 2014

Infiltração causou tragédia com trem da ALL em Rio Preto

Ferrovias

Perito diz que contratrilho instalado depois da tragédia vai inibir novos descarrilamentos - A movimentação da superfície, fenômeno conhecido como subsidência, em um trecho de 14 metros no quilômetro 201,350, provocou o rebaixamento dos trilhos em 2,5 centímetros, o suficiente para desencaixar o friso das rodas dando causa ao descarrilamento dos vagões.

Por Alexandre Gama e
Rodrigo Lima - Diário Web

Laudo da Polícia Civil concluiu que falta de drenagem de água pluvial, e consequente infiltração com movimentação do solo, foi a causa do descarrilamento do trem da América Latina Logística (ALL) que matou oito pessoas no bairro Jardim Conceição, em novembro do ano passado em Rio Preto.
A movimentação da superfície, fenômeno conhecido como subsidência, em um trecho de 14 metros no quilômetro 201,350, provocou o rebaixamento dos trilhos em 2,5 centímetros, o suficiente para desencaixar o friso das rodas dando causa ao descarrilamento dos vagões. A movimentação do solo teria ocorrido no teste de freios da composição, exigência para todos os cruzamentos em nível.
O perito William Cruz apontou que a infiltração de água da chuva foi provocada por “falta de drenagem adequada na rua Presidente Roosevelt.” No local, o aterro que dá sustentação aos trilhos formou uma espécie de represa da água da chuva que, ao longo dos anos, comprometeu a compactação do solo.
Ainda de acordo com a perícia, foram registrados pontos de vazamento de esgoto, já que análises do subsolo mostraram índices significativos de fluoretos, cloretos e cafeínas, resultantes da decomposição de material orgânico.

Fatalidade
No laudo do IC encaminhado nesta terça-feira, 20, para a Polícia Civil, Polícia Federal e Ministério Público Federal e de São Paulo, o perito não aponta responsabilidades diretas pelo acidente, que considera uma fatalidade. Mas alega que a ALL teria responsabilidade em monitorar os problemas de drenagem e comunicar a Prefeitura, que teria de promover as obras necessárias.
“Quanto às infiltrações de esgotos elas ocorrem por rompimento de alguma tubulação a montante do ponto de descarrilamento. Ao que tudo indica este tipo de acidente por subsidência do solo é inédito no mundo”, diz a conclusão do documento, obtido pelo Diário com exclusividade.
Segundo o perito, os representantes da ALL deveriam ter informado os problemas aos órgãos municipais como a Prefeitura e o Serviço Municipal Autônomo de Água e Esgoto (Semae) para que fossem realizadas obras de drenagem na altura da rua Presidente Roosevelt.
A perícia descartou a possibilidade do descarrilamento ter ocorrido por conta da velocidade do trem, da falta de manutenção dos dormentes e dos trilhos. “Nem velocidade, nem dormente, nem trilho e nem elemento de fixação. Foi a subsidência natural do solo decorrente da infiltração. Tinha de ter feito drenagem adequada. Na Presidente Roosevelt se formava uma barreira de água”, disse Cruz.

Paliativo
Após o acidente a concessionária construiu um muro ao longo da linha no trecho do descarrilamento. Para o perito, que acompanhou a reportagem até o local da tragédia, as obras não vão impedir nova infiltração do solo.
Para ele, o solo do local está comprometido. “Precisam cuidar da drenagem. Não pode mais deixar infiltrar, não pode ficar mais comprometido do que já está. (Solução) exige trabalho pesado de engenharia. Teria de tirar os trilhos e compactar de novo o solo”, afirmou ele.
A Polícia Civil, Federal e Ministérios Públicos vão apurar agora as devidas responsabilidade. Por parte da ALL, se houve omissão na fiscalização do local, como não ter notificado a Prefeitura para fazer a “drenagem adequada” do local. “Se oficiou (a Prefeitura do problema), está respaldada, uma vez que o acidente ocorreu por causas alheias à sua vontade, manutenção e operação”, afirmou Willian Cruz.

Prefeitura e ALL não comentam laudo
A Prefeitura de Rio Preto e a concessionária América Latina Logística (ALL) não quiseram se manifestar sobre o resultado da perícia antes de ter acesso ao documento. O secretário de Comunicação, Deodoro Moreira, porém, adiantou nesta terça-feira, 20, que o papel de fiscalizar é da ALL.
Para o perito do Instituto de Criminalística (IC) de Rio Preto William Cruz, a Prefeitura deveria construir sarjeta e calçada ao longo da linha férrea no bairro Jardim Conceição, além de sistema de drenagem. "A rua é em aclive e toda a água escoa e encontra a linha férrea. Tinha de fazer calçada e sarjeta. Isso aqui permite a infiltração da água e vai continuar passando por baixo da linha (férrea). Olha como o muro afunda”, afirmou o perito.
Cruz disse que “há grande chance” de acontecer um novo acidente. “Não com as mesmas proporções por causa do contratrilho. Mas um novo descarrilamento por conta da depressão do trilho pode ocorrer”, disse em entrevista ao Diário no local do acidente ontem. Somente com obras de drenagem no local o problema será solucionado de acordo com o especialista. “Aqui é o grande ‘x’ da questão. A água vem do bairro e a água vai para lá (trilho). Precisava drenagem adequada com sarjeta e galeria. Sarjeta tinha de ter”, disse.
Cada composição que passa pela linha férrea em Rio Preto tem 80 vagões e cada um pesa até 120 toneladas. Ele diz que pesquisou e não encontrou no mundo acidente com as mesmas particularidades de Rio Preto. “Só um na Austrália. Trem carregado não descarrila. Foi uma fatalidade.”
O perito apontou ainda que a faixa de domínio definida por lei municipal não foi cumprida pelo loteador do bairro. Cruz indicou que os imóveis atingidos pelo trem foram construídos foram dos padrões estabelecidos pela legislação.
Fonte - STEFZS  21/05/2014

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