domingo, 30 de março de 2014

“Rússia sofre com preconceito e discriminação na questão da Crimeia” - Angelo Segrillo

Internacional

O especialista em História Contemporânea com Ênfase em Ásia e coordenador do Laboratório de Estudos da Ásia do Departamento de História da USP, e autor de vários livros sobre a Rússia, concedeu entrevista ao jornalista Giovanni Lorenzon, da Voz da Rússia.... 

Angelo Segrillo
Angelo Segrillo
Quaisquer que sejam as críticas que os principais países do Ocidente fazem sobre a Rússia, uma boa dose é de preconceito e outra é de discriminação. Assim pode ser resumida, de acordo com o historiador e cientista político brasileiro Angelo Segrillo, a pressão que a Europa e os Estados Unidos fazem sobre as ações do Governo de Vladimir Putin na questão da Crimeia, tornando-a novamente parte do território russo.
Professor Angelo Segrillo: “Esta situação toda só será resolvida quando acabarmos com a concepção de alianças militares em tempos de paz, como essa que une praticamente toda a Europa e os Estados Unidos”
O especialista em História Contemporânea com Ênfase em Ásia e coordenador do Laboratório de Estudos da Ásia do Departamento de História da USP, e autor de vários livros sobre a Rússia, concedeu entrevista ao jornalista Giovanni Lorenzon, da Voz da Rússia, da qual destacamos os pontos abaixo:

Sobre a posição da União Europeia e dos Estados Unidos em relação à Rússia diante da crise ucraniana e a anexação da Crimeia:
Angelo Segrillo – Alguns governantes e ideólogos ocidentais realmente acreditam que defendem valores democráticos quando acusam unilateralmente a Rússia de ser o lado errado nesta questão. Outros sabem que isto, na verdade, é um certo preconceito – de que a Rússia está sempre do lado errado –, mas mantêm o discurso assim mesmo. Os dois grupos demonstram uma certa "má vontade" com a Rússia ao considerá-la herdeira de mentalidades soviética e imperial czarista. Em minha opinião, estas visões não levam em consideração as circunstâncias esdrúxulas da deposição do presidente eleito Viktor Yanukovich sem os processos normais e legais de impeachment com direito à defesa, etc., que levaram a este episódio.

Sobre a influência desses grupos em muitos think tanks brasileiros e alguns meios da imprensa, que não aprovam a ação na Crimeia:
AS – A grande imprensa brasileira geralmente trabalha a partir das agências de notícias ocidentais. Isso acaba levando a maior repercussão dos pontos de vistas ocidentais em nosso país.

Sobre a defesa do governo Putin de que a Crimeia é russa e que a maior parte da população é de russos e seus descendentes:
AS – A questão da passagem da Crimeia à Ucrânia [em 1954 o então líder soviético Nikita Khruschev, que era de origem ucraniana, deu a região como presente] nunca foi bem digerida na Rússia, mas acho que se não tivesse havido a deposição do presidente ucraniano do jeito que foi a Rússia não teria feito a anexação daquela região.

Sobre a necessidade da Rússia de manter alguma barreira geopolítica e militar contra o avanço no Leste da União Europeia e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN):
AS – Acho que esta é a resposta instintiva da Rússia ao avanço da OTAN em sua direção. Ela tem lógica. Mas acho que esta situação toda só será resolvida quando acabarmos com a concepção de alianças militares em tempos de paz, como essa que une praticamente toda a Europa e os Estados Unidos.

Sobre se a Rússia se sente “pequena” depois do desmantelamento da União Soviética e se o país não se sente respeitado pelo Ocidente:
AS – Não, não acho que a Rússia tenha ou precise ter complexo de inferioridade em relação ao Ocidente. Mas, certamente, no momento atual, sente-se discriminada pelos países ocidentais do chamado primeiro mundo. E nem sempre a Rússia foi alvo de desrespeito. Houve momentos de grande prestígio da Rússia no Ocidente, quando, por exemplo, derrotou Napoleão ou quando a União Soviética ajudou a derrotar o nazismo. Nessas épocas a Rússia foi muito apreciada pelos governos ocidentais.

Sobre o silêncio oficial do Governo brasileiro, que tem um acordo aeroespacial com a Ucrânia, onde já foram investidos milhões de dólares, e também é aliado da Rússia no bloco BRICS, além de alinhamentos políticos em muitas questões internacionais:
AS – Acho que a resposta atual do Brasil, em não se meter na questão, está correta. O Brasil não tem necessidade de comprar a briga de outros, principalmente em situações tão complicadas e contraditórias como essa.
Fonte - Diário da Russia  30/03/2014

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