quarta-feira, 26 de março de 2014

A realidade virtual faz o Marco Civil nascer obsoleto

Marco Civil

 É um passo na direção certa, e de astronauta: um passinho que é um grande salto. O interesse das grandes empresas de telecomunicação, e seus representantes no Congresso, foi derrotado. O interesse das grandes empresas de internet e mídia venceu. Agora toca ficar de olho em umas e outras. Ganha o brasileiro, como consumidor e cidadão.

André Forastieri
Garota testa o Oculus Rift
Se você tem certeza sobre alguma coisa no mundo digital, tenha certeza que está errado. A única coisa inteligente a dizer sobre internet é a clássica sentença de William Goldman sobre Hollywood: "Nobody knows anything."
O Brasil aprovou o Marco Civil da Internet. Ótimo. O Marco Civil é imperfeito, como tudo no mundo da política e dos homens. É um passo na direção certa, e de astronauta: um passinho que é um grande salto. O interesse das grandes empresas de telecomunicação, e seus representantes no Congresso, foi derrotado. O interesse das grandes empresas de internet e mídia venceu. Agora toca ficar de olho em umas e outras. Ganha o brasileiro, como consumidor e cidadão.
O principal defeito do Marco Civil é que ele facilita a censura, jogando a decisão sobre o que pode ser publicado ou não na internet para "juizados especiais". Esperemos que isso seja modificado na primeira revisão. Que virá logo. Porque o Marco Civil já nasce defasado. Vai requerer revisões contínuas. As leis que regulamentam o trabalho não vêm mudando desde o final da escravidão? Pois cem anos no mundo real passam em cinco no mundo digital. E, como sabemos, não basta ter lei - há que fazê-las valer, o mais difícil.
A velocidade da mudança fica espetacularmente evidente hoje. Justamente no dia que o Brasil aprova o Marco Civil, o Facebook anuncia a compra da Oculus VR. Quem? É uma empresa com um ano e meio de idade. Seu primeiro produto, que ainda nem foi lançado oficialmente, é o Oculus Rift, óculos de realidade virtual para jogar videogames. A Oculus VR já queimou uns U$ 160 milhões em investimento. O Rift tem 75 mil encomendas. Quem testou, curtiu. Quem testou, testou na E3, maior feira de games do mundo; é assunto velho pra gamer; eu já li uns trinta artigos sobre o Rift desde 2012.
Que tem games, e realidade virtual, a ver com rede social? Tudo. Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, explica: "A realidade virtual é uma forte candidata a ser a grande próxima plataforma social e de comunicação. Imagine assistir um jogo da primeira fileira, ou estudar em uma classe com alunos e professores do mundo inteiro, ou fazer uma consulta com um médico - simplesmente colocando seus óculos de realidade virtual, na sua casa. Da mesma maneira que a internet móvel é o presente, realidade virtual é o futuro.".
O discurso de Mark é para o grande público, que está por fora. O Oculus VR não é o futuro, é o presente - tanto, que o Facebook pagou US 2,3 bilhões por ele. O que vem depois? Não sei, mas sei onde procurar. Mais uma vez, pela milionésima vez, como a tela touch, o avatar, a rede social, o tablet e o controle de voz, o futuro vem do mundo dos games. Mas cansei de repetir isso no Brasil. Ninguém quer entender ou investir em games ou gamificação. Nenhuma empresa de tecnologia ou comunicação do nosso país quer enxergar isso.
E muito menos nossos políticos, claro. O Marco Civil, que é não mais que decente, quase não é aprovado. E já nasce incapaz de absorver a realidade virtual, que é a pauta do dia. Na verdade, tem uma única coisa que dá pra saber sobre o universo digital: a maioria de nós tenta entendê-lo olhando para o passado, não para o presente, e muito menos para frente. Mantenho os olhos fixos no horizonte, atento no jogo, lá onde a visão embaça, onde a certeza dissolve - como um relógio de Dali.
Fonte - R7.com  26/03/2014

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