domingo, 6 de outubro de 2013

Médicos cubanos atendem regiões isoladas do Sertão

Saúde

Profissionais estrangeiros já prestam atendimento primário no Centro-Sul e Região dos Inhamuns

Acopiara. Os médicos cubanos, inscritos na primeira etapa do programa Mais Médicos do Ministério da Saúde, chegaram a 11 cidades do Interior do Ceará levando consultas de atenção básica à população de áreas isoladas na zona rural. Em menos de 15 dias, os profissionais conquistaram a confiança e o reconhecimento dos moradores que vivem em localidades onde nunca havia atendimento médico ambulatorial regular.

fotos - Honório Barbosa
Natural de Cuba, Ivan Rodriguez presta serviço à população da zona rural de Acopiara. Além das consultas ambulatoriais, o atendimento é extensivo às visitas domiciliares, como acontece na comunidade de Calabouço.

Um exemplo vem da localidade de Calabouço na zona rural de Acopiara. Localizada no alto sertão cearense, entre os municípios de Quixelô e Solonópole, a comunidade, desde segunda-feira passada, dispõe dos serviços do médico Ivan Rodriguez, originário da província de San Tiago de Cuba.
Avaliação - 
Dedicado, atencioso e com 20 anos de experiência em atenção básica de saúde em Cuba e na Venezuela, Ivan Rodriguez recebe avaliação positiva dos moradores. "Aqui nunca veio um médico e construíram esse posto há cinco anos, mas só tinha profissional de Enfermagem", disse o agricultor Valdemar Felipe de Souza.
A Unidade Básica de Saúde (UBS) da localidade de Calabaço, distante 75km da sede de Acopiara, apresenta boa estrutura e passa por adaptações com investimentos de R$ 34 mil do Ministério da Saúde. Os consultórios dispõem de aparelhos de ar condicionado, há salas de imunização, para exames ginecológicos, farmácia, cantina, área de serviço e sanitários.

Em média, nesta primeira semana de trabalho, o médico Ivan Rodriguez atendeu 20 pacientes por dia. "É a demanda espontânea", conforme ele mesmo frisou. "Depois vamos fazer reuniões e palestras sobre educação em saúde".
A UBS de Calabaço possui área de abrangência de 500 famílias de oito localidades rurais, que têm por característica casas isoladas e terras áridas. O tempo seco e quente nessa época do ano despertou a atenção de Ivan Rodriguez. "A gente estuda sobre a cultura, a geografia e a história do Brasil, mas vê de perto assim essa vegetação seca é bem diferente", disse. "O calor está muito intenso".
Os médicos cubanos cumprem carga horária de 40 horas semanais. Isto é, são oito horas diárias. Esse fato surpreende os moradores. Os médicos brasileiros que atendem em postos do Programa Saúde da Família não passam mais do que uma hora e meia. Outro aspecto diferencial é o tempo de consulta. "É bem mais demorada", observa a enfermeira, Thaís Araújo de Souza. "Ele pergunta muito, no intuito de conhecer a história do paciente", afirmou.
Superação - 
O obstáculo inicial do idioma estrangeiro está sendo superado rapidamente. Os médicos cubanos estudaram cerca de seis meses a língua portuguesa.
Os que vieram para os municípios de Acopiara e Catarina conseguem se expressar de forma compreensível. Falam devagar, e repetem as palavras até se fazerem entender. A adaptação, como diz a comunidade, ocorre pela dedicação.
A dona de casa, Nara Raquel Macedo, foi taxativa: "Deu para entender tudo que ele disse, ele insiste até a gente entender e pergunta muitas coisas". Antes da consulta, os moradores mostram-se apreensivos por temor de não ser estabelecida uma comunicação compreensiva.
O agricultor Benevides Vieira fez a primeira consulta com queixa de dor de cabeça e incômodo na garganta. "Gostei muito e entendi tudo", disse. "Agora ficou bem melhor porque antes a gente tinha que ir para Quixelô, atrás de um médico".
No início da tarde desta quinta-feira, Ivan Rodriguez fez duas visitas domiciliares. É a quinta em apenas uma semana. "Aqui na comunidade nunca trabalhou um médico e imagina vir um aqui na minha casa. Meu Deus, isso é muito bom, nunca imaginei que isso pudesse acontecer", disse a aposentada, Francisca Moreira de Carvalho que foi consultado no alpendre de casa. Diariamente, os médicos cubanos percorrem centenas de quilômetros entre a sede do município e a UBS. Chegam por volta das 9 horas e só saem às 17 horas. Não há limite de consultas. "Nós cubanos somos prestativos e viemos aqui para trabalhar, para atender as pessoas pobres, que necessitam dos nossos serviços", disse Ivan Rodriguez. Esses profissionais deixaram família, mulher e filhos, em Cuba, e vieram ser solidários ao povo brasileiro.
O secretário de gestão do Ministério da Saúde, Odorico Monteiro, por ocasião da entrega simbólica do registro do CRM aos médicos cubanos que estão trabalhando em Acopiara e Catarina frisou que os profissionais são dedicados e compromissados com a população pobre. "Eles trabalham com muito zelo e atenção", disse. "No Brasil, faltam médicos. Os brasileiros não vão para essas áreas isoladas, distantes porque enfrentam elevada demanda por seus serviços", frisou. "Estamos trazendo mais profissionais e a população vai reconhecer o esforço do governo", ressaltou...
Fonte - Diário do Nordeste   06/10/2013

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