quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O relatório Cunha e a falta de estadistas na República

Enviado por luisnassif, 28/11/2012
Autor: Luis Nassif


É sintomático o recuo do deputado Odair Cunha e do presidente do PT, Rui Falcão, em relação ao indiciamento de jornalistas claramente acumpliciados com o crime organizado.
O PT tornou-se um partido invertebrado. No Congresso, a bancada inteira pesa menos que um Álvaro Dias. E invertebradas são as instituições brasileiras. Instituições têm a Inglaterra, capazes de julgar os abusos de Rupert Murdoch sem receio de que seus magistrados sejam atingidos por ataques pessoais ou que se coloque em dúvida o compromisso das instituições com a democracia.
O próprio relatório inicial de Odair Cunha deixava claro que, ao propor o indiciamento do diretor da Veja em Brasília, Policarpo Jr., não se cogitava em brigas políticas ou em atentados à liberdade de imprensa, mas em combater especificamente alianças de veículos e jornalistas com o crime organizado. Era uma maneira de depurar a mídia e trazer a discussão dos limites da imprensa para uma arena republicana: o Judiciário, e não nas bobagens de um conselho de jornalismo, como se cogitou anos atrás.
Nem isso se consegue.

No Brasil, graças à covardia generalizada das instituições – Judiciário, Executivo, Legislativo e partidos –, a resistência contra essa aliança mídia-crime é individual, sujeitando os resistentes a ataques pessoais devastadores, porque sem limites judiciais.

Na série “O caso de Veja” (https://sites.google.com/site/luisnassif02/) relato com pormenores algumas dessas jogadas. Mostro o massacre sobre a juíza Márcia Cunha, que concedeu liminar contra Daniel Dantas; a armação contra o desembargador que confirmou a liminar; os ataques aos jornalistas que ousaram denunciar a trama. Mostro a parceria da revista com os esquemas de Dantas e Cachoeira. Em vão!
Essa abertura para as parcerias criminosas surgiu da falta de limites aos exageros da mídia. O que, no início, era apenas mau jornalismo, em alguns veículos tornou-se peças de estratégias comerciais ou criminosas, como ocorreu na parceria Veja-Cachoeira ou Veja-Dantas.
É um processo que, hoje em dia, não poupa ninguém, de presidentes de Tribunais a procuradores, de políticos a administradores. Quem quiser comprar proteção, faça como Ayres Britto. Quem se insurgir contra esse poder devastador, sofra as consequências, como Márcia Cunha.
Quando o indescritível Ministro Luiz Fux diz que o Judiciário não teme ninguém, digo, ele mente: teme o poder dos ataques individualizados da mídia. Teme sim, da mesma maneira que Odair Cunha, Rui Falcão, Ayres Britto e outros.
Só se melhorará a mídia com limites institucionais definidas pelo Judiciário ou pelo Legislativo, não pelo voluntarismo de pessoas que terminarão destruídas pelo poder avassalador da prática da difamação em larga escala.

Mas há falta generalizada de estadistas em todos os poderes da República.
Fonte -  Luis Nassif  on line 28/11/2012

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