segunda-feira, 4 de maio de 2015

Portugal tem o segundo pior desempenho da Europa na ferrovia

Internacional

Estudo da Boston Consulting Group coloca Portugal no penúltimo lugar em 25 países europeus.A má classificação de Portugal no ranking europeu está explicada pela falta de investimentos no setor ferroviário

Público PT
foto - engenhariaportugal
Um estudo da Boston Consulting Group, que criou um indicador para medir o desempenho dos sistemas ferroviários nacionais, coloca Portugal no penúltimo lugar em 25 países europeus.
A consultora construiu aquele indicador, denominado Railway Performance Índex (RPI), que mede o desempenho das ferrovias nacionais com base em três aspectos: a frequência de utilização da rede ferroviária, a qualidade do serviço que é prestado e a segurança.
O ranking obtido pela consultora coloca numa “primeira divisão” a Suíça, Suécia, Dinamarca, França e Alemanha como os países que têm melhores sistemas ferroviários.
Seguem-se mais dois grupos. Primeiro, aquele que a empresa identifica como tendo uma qualidade de serviço e de segurança razoáveis: Áustria, Reino Unido, República Checa, Holanda, Luxemburgo, Espanha, Itália, Bélgica e Noruega.
Há, depois, uma “terceira divisão” onde se encontram, por esta ordem, a Eslovênia, Irlanda, Lituânia, Hungria, Letônia, Eslováquia, Romênia, Polônia, Portugal e Bulgária.
Num estudo idêntico realizado em 2012 a consultora colocava também Portugal em penúltimo lugar, juntamente com a Polônia e a Bulgária.
O documento revela que os países europeus cujos sistemas ferroviários apresentam melhor desempenho são aqueles em que mais fundos públicos são atribuídos aos gestores de infraestrutura, o que é claramente o caso da Suíça, dos países nórdicos, da França e da Alemanha.
“O nosso estudo indica que o modelo de aplicação de subsídios apresenta correlação direta com o desempenho do sistema ferroviário”, refere Sylvain Duraton, consultor principal da Boston Consulting Group e coautor deste trabalho de análise.
Para os sistemas ferroviários europeus, os subsídios públicos apresentam-se assim como essenciais para que a sociedade deles tire o máximo partido. Uma conclusão prática que contraria o paradigma dominante na União Europeia de que a liberalização do transporte ferroviário e o afastamento do Estado conduziria à sua optimização.
Agnès Audier, da mesma consultora, adverte, porém, que a correlação entre dinheiro público e uma boa prestação dos caminhos-de-ferro “não significa que mais alocação de subsídios constitua uma fórmula mágica para melhorar o desempenho do setor ferroviário”. A responsável apenas constata que “os governos nacionais e as companhias ferroviárias muito podem beneficiar ao conhecerem aquilo que verdadeiramente influencia a prestação ferroviária no sentido positivo”.
A aplicação de dinheiro dos contribuintes no setor tanto pode ter como destino a infraestrutura (não só o investimento físico, mas a sua própria manutenção) como a exploração ferroviária através de subsídios aos operadores. Mas os consultores chegaram à conclusão de que a relação custo-eficiência obtida a partir dos dinheiros públicos é maior quando o dinheiro é entregue à empresa de infraestruturas. “É mais eficaz para a melhoria do desempenho ferroviário atribuir financiamento público aos gestores de infraestrutura do que dispersá-lo pelos vários operadores”, refere o documento a que o PÚBLICO teve acesso.
Isto quer dizer que, no exemplo de Portugal, cada euro aplicado na Refer, que gere a infraestrutura por onde circulam os trens,traria maior retorno ao sistema ferroviário do que se fosse aplicado na CP ou noutros operadores.
Seja como for, a má classificação de Portugal no ranking europeu está explicada pelo desinvestimento no setor ferroviário. A aposta das últimas décadas na rede viária, a par do encerramento de centenas de quilômetros de linhas férreas, fizeram de Portugal um caso único na Europa ao possuir mais quilômetros de auto-estradas do que ferrovias.
O rácio de 1,17 quilômetros de auto-estradas por cada quilômetro de linha férrea é claramente superior aos dos países que estão no top do bom desempenho ferroviário e que claramente têm, em termos relativos, menos autoestradas que Portugal: Suíça (rácio de 0,27), Suécia (0,18), Dinamarca (0,38), França (0,39) e Alemanha (0,31).
A construção do RPI tem em conta o número de passageiros e de toneladas transportadas por caminho-de-ferro (intensidade do uso da rede), a pontualidade dos diversos serviços, percentagem de linhas de alta velocidade e preços médios dos bilhetes (qualidade do serviço) e o número de acidentes e mortos nas linhas férreas (segurança).
Fonte - Revista Ferroviária  04/05/2015

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