quinta-feira, 30 de abril de 2015

Dia do Ferroviário

Transportes sobre trilhos

No século XIX, os trens rapidamente se difundiram no mundo e no Brasil. Aqui, em 1889, já havia 10 mil quilômetros de linhas férreas e, no centenário da inauguração da Estrada de Mauá, em 1954, os trilhos já haviam atingido cerca de 40 quilômetros.Ou seja, na década de 50, o trem era o principal meio de transporte entre as duas maiores cidades do país: São Paulo e o Rio de Janeiro. A ponte aérea só surgiria em 1959.

Vicente Vuolo
Locomotiva Maria Fumaça na Estação da Calçada/CTB
foto - Pregopontocom
O trabalhador ferroviário também tem seu dia. Uma comemoração merecida. É todo 30 de abril. Isso, Porque em 30 de abril de 1854 inaugurou-se a primeira linha ferroviária do Brasil, a Imperial Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro de Petrópolis ou como é conhecida hoje, Estrada de Ferro Mauá.
A ferrovia, que tinha cerca de 14 km de trilhos, ligava o Rio de Janeiro a Raiz da Serra, na direção de Petrópolis. Ela foi um empreendimento do empresário Irineu Evangelista de Sousa, que por isso recebeu do governo imperial o título de Barão de Mauá. E a primeira viagem contou com a ilustre presença do Imperador Dom Pedro II e da Imperatriz Tereza Cristina.
No século XIX, os trens rapidamente se difundiram no mundo e no Brasil. Aqui, em 1889, já havia 10 mil quilômetros de linhas férreas e, no centenário da inauguração da Estrada de Mauá, em 1954, os trilhos já haviam atingido cerca de 40 quilômetros.
Ou seja, na década de 50, o trem era o principal meio de transporte entre as duas maiores cidades do país: São Paulo e o Rio de Janeiro. A ponte aérea só surgiria em 1959.
Se continuássemos nesse ritmo, priorizando o transporte ferroviário, com certeza o Brasil seria outro. Teríamos certamente, no mínimo, mais de 100 mil quilômetros de linhas férreas, as pessoas já estariam viajando no trem-bala bem como as cargas a longa distância estariam sendo transportadas em comboios de 100 vagões com 12 mil toneladas. Além disso, as cidades teriam um transporte público de qualidade com metrôs, VLTs e trem de superfície.
Mas, infelizmente, o Brasil seguiu outro caminho. Preferiu adotar uma política de sucateamento das ferrovias e retirada de trilhos. Incentivou-se a indústria automobilística, isso fez as cidades entupirem-se de carros e ônibus; só se construiu estradas, priorizou-se o asfalto, incentivando o consumo desenfreado de petróleo. O final da década de 1950 e as décadas seguintes entorpeceram as mentes dos brasileiros e passamos a acreditar na miragem dos pneus e dos carros. Tão entorpecidos ficamos que até hoje não acreditamos que esta foi uma política suicida e que está paralisando as vidas urbanas e inviabilizando os fretes de mercadorias. De geração em geração, vamos empurrando problemas aos nossos filhos.
Hoje é cada vez maior o número de pessoas que percebem que as consequências foram desastrosas para a nossa economia e para o país. Aumento da poluição, engarrafamentos, stress, acidentes, fretes, pedágios, consumo de gasolina, diesel, alto custo de manutenção das rodovias – quase sempre esburacadas – e crise generalizada todos os anos com manifestações de caminhoneiros, nas estradas, e de usuários de transporte público, nas cidades contra as péssimas condições de mobilidade urbana.
Portanto, o dia do ferroviário poderia ter sido celebrado de forma diferente do que hoje comemoramos: extinção da Rede Ferroviária Nacional, trem-bala parado, ferrovia Rondonópolis - Cuiabá paralisada (projeto desde 1974), VLT de Cuiabá sem perspectiva de entrega das obras, falta de um Plano Nacional Ferroviário, orçamento pífio para construção de ferrovias.
Os ferroviários no Brasil podem ser vistos como heróis, já que não recebem a devida importância do poder público há mais de 60 anos. Assim como também o são os poucos políticos ferroviários que ousam defender esse meio de transporte, como aconteceu na Sessão Solene na Câmara dos Deputados esta semana solicitada pelo Deputado Júlio Lopes (RJ) e com apenas mais dois Deputados presentes (Gonzaga Patriota - PE e Mauro Pereira - RS).
Nas últimas décadas, a tendência à redução dos investimentos em ferrovias começou a ser revertida, porém ainda são insuficientes os recursos privados e estatais direcionados ao setor. E novamente estamos, literalmente, perdendo o “bonde da história”. O mundo todo já voltou a reconhecer as linhas férreas como solução, e nós ainda patinamos na ilusão de que carros e caminhões são sinônimos de progresso.
Nesse dia, saúdo os ferroviários, os que trabalham nas ferrovias e os que sonham com um Brasil colocado nos trilhos.
Vicente Vuolo - Economista, cientista político e analista legislativo do senado federal.
Fonte - Revista Ferroviária  30/04/2015

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