quarta-feira, 18 de março de 2015

Moradores da Zona Norte de Recife sem alternativas para fugir do trânsito

Mobilidade

Com o entupimento da Av. Norte e somente com ônibus para o transporte público, Zona Norte vive caos no trânsito.Diferentemente da Zona Sul, que dispõe de metrô e no último ano recebeu faixa exclusiva para transporte coletivo e uma passagem expressa...

Maira Baracho*
Diario de Pernambuco
Trânsito na Avenida Rui Barbosa fica congestionado
 quase todas as manhãs. Para a CTTU a alternativa é a Rua do Futuro
 também engarrafada. Foto - Allan Torres/DP/D.A Press 
Na Zona Norte do Recife a cena se repete todos os dias: milhares de carros disputam espaço nas ruas apertadas e um trajeto de menos de três quilômetros pode exigir até 40 minutos dos motoristas. Diferentemente da Zona Sul, que dispõe de metrô e no último ano recebeu faixa exclusiva para transporte coletivo e uma passagem expressa - a Via Mangue - a região Norte da cidade é carente de alternativas e continua fora do roteiro dos principais projetos de mobilidade urbana. Na semana passada o Diario realizou o caminho feito por milhares de recifenses e fez o percurso de ida e volta entre o Mercado de Casa Amarela e o Parque Treze de Maio, no Centro, em pleno horário de pico. Levamos até 1h22 para completar o trajeto, que pode ser conferido detalhadamente no infográfico abaixo.




Em uma manhã típica no Recife, que ostenta o título de pior trânsito do país, se gasta entre 20 e 40 minutos para percorrer toda a Avenida Rui Barbosa. A alternativa para escapar da via onde circulam 24 mil carros todos os dias é a Rua do Futuro, que, no entanto, também sofre com a lentidão. Na Avenida Norte, onde 53,5 mil carros passam todos os dias, não é diferente. Sem planos governamentais para desafogar o tráfego na área a curto e médio prazo, o morador da Zona Norte fica preso a esses percursos. Segundo o site Numbeo, o recifense leva, em média, 55,6 minutos para se deslocar entre um ponto e outro, se posicionando como a 10ª metrópole do mundo onde se gasta mais tempo no trânsito. Na prática, no entanto, o tempo pode ser ainda maior.
Os filhos de Melissa Carvalho estudam em uma escola na Rui Barbosa. Todos os dias ela leva 40 minutos para percorrer a avenida e acredita que a precariedade do transporte público influencia na quantidade de carros. “Há a necessidade dos pais levarem seus filhos ao colégio, por causa da insegurança do transporte coletivo, o que aumenta ainda mais o fluxo de carros”, percebe. Para os usuários de ônibus, o único tipo de transporte coletivo disponível na região, o cenário não é diferente.
 

Para o urbanista César Barros o problema do trânsito na Zona Norte – e no Recife – se sustenta em quatro pilares: lacuna histórica de planejamento, gestão falha, não priorização do transporte público e negação dos modais não motorizados. “O que acontece quando você junta esses fatos é o caos total”, comenta. Para ele, só uma mudança de perspectiva na atuação da gestão pública mudaria o trânsito.
“Os veículos motorizados deveriam funcionar com uma bitola permanente, que garantisse o fluxo a partir da capacidade da via”, explica, defendendo uma padronização das ruas. “A Rui Barbosa, por exemplo, tem larguras diferentes dependendo do trecho, o que deixa o trânsito confuso”, analisa. “Você tem giros à esquerda onde não deveria ter, como no cruzamento da Avenida Norte com o canal do Arruda. A gestão precisa estar atuante a cada momento porque situações como essa devem ser evitadas radicalmente”, avalia.

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Outra questão identificada pelo especialista é a não priorização do transporte coletivo, que ele defende como alternativa viável para melhorar o tráfego. “Faixas exclusivas de ônibus é o mínimo que se pode fazer em vias como Rosa e Silva e Avenida Norte.” Para ele, a gestão também deve voltar-se para os veículos não motorizados, sobretudo a bicicleta. “Você poderia interligar toda a Região Metropolitana com apenas sete ciclovias. E elas devem estar nos corredores principais da cidade. Isso significa que um estudante poderia sair, por exemplo, de Apipucos e seguir até o seu colégio, na Rui Barbosa, de bicicleta. Hoje ele não vai porque é perigoso”, explica. “Se isso tudo não for levado em consideração, qualquer opção vai ser caótica”, opina.

Foto: Allan Torres/DP/D.A Press 
Nas principais vias da Zona Norte circulam mais de 143 mil carros diariamente. São 53 mil na Avenida Norte , 33 mil na Rui Barbosa e 24 mil na Rui Barbosa. A Dezessete de Agosto recebe os 33 mil restantes.

Sem projetos à vista
Através da assessoria de imprensa, a Companhia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) confirmou que nenhum grande projeto está previsto para a área, a não ser um possível VLT (metrô de superfície) que pode ser implantado na Avenida Norte, mas que estaria ainda em fase “embrionária”. Ainda de acordo com a companhia, nos últimos dois anos foram feitas 19 alterações na circulação de veículos nas vias da Zona Norte, que vão desde binários, proibições e eliminações de giros. A CTTU disse ainda que 80 orientadores auxiliam o trânsito e atuam nos principais cruzamentos da área, como nas avenidas Rosa e Silva, Norte, Rui Barbosa e Parnamirim.
A CTTU informou também informou que outras medidas estão sendo analisadas e devem ser implementadas ainda no segundo semestre de 2015, mas não entrou em detalhes sobre os projetos.
Colaborou Mike Torres*
Fonte - Diário de Pernambuco  18/03/2015

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