quinta-feira, 24 de julho de 2014

Maria Fumaça com 100 anos de idade ainda opera em Minas

Transportes sobre trilhos

Há sempre uma criança dentro de nós, entusiasmada com um trem que se move, com um apito vibrando ou com o barulho constante das rodas de ferro nos trilhos. - Todas as viagens começam em São João del-Rei pois lá dormem as locomotivas e os antigos vagões de madeira.

Por Haroldo Castro (Texto e fotos)
Viajologia - Tiradentes, MG

Quase impossível ir a Tiradentes pela primeira vez e não fazer o passeio de Maria Fumaça que liga a cidade colonial a São João del-Rei. Há sempre uma criança dentro de nós, entusiasmada com um trem que se move, com um apito vibrando ou com o barulho constante das rodas de ferro nos trilhos.
Por isso, mesmo tendo realizado o trajeto em 1986, não neguei o convite. E rapidamente concluí que, nos últimos 28 anos, pouca coisa mudou no ambiente ferroviário mineiro: as antigas locomotivas continuam tão charmosas como antes.
Todas as viagens começam em São João del-Rei pois lá dormem as locomotivas e os antigos vagões de madeira. Nos feriados, nas sextas e nos finais de semana, a primeira viagem ocorre às 10h da manhã. Depois de 35 minutos, o trem chega a Tiradentes.
Mas como mudar a direção da locomotiva para voltar? Os ferroviários resolveram a equação criando uma rotunda giratória. A locomotiva entra em uma plataforma circular, onde dá um giro de 180 graus. Ela entra de costas, dá meia-volta e sai na direção oposta. Trafega algumas dezenas de metros em um trilho paralelo e depois se engata na frentedos vagões, os quais não saíram do lugar.
É hora de embarcar. O ruidoso apito chama a atenção dos retardatários. O primeiro solavanco da saída mostra que a viagem acontece com equipamentos antigos e barulhentos. Os vagões parecem que vão se desmanchar durante trajeto. Os bancos de madeira estão longe de serem confortáveis.
Mas o pitoresco parece ser o elemento fundamental. Até mesmo uma família de norte-americanos, que faz uma longa jornada pela América do Sul, acha graça na viagem da Maria Fumaça, embora não tenham recebido nenhuma informação e saibam apenas o nome das estações de saída e de chegada.
De fato, apesar do custo da passagem (40 reais), não existe nenhum serviço que dê uma informação básica sobre o passeio. Seria tão simples ter uma gravação em diversos idiomas relatando os principais passos do itinerário e falando sobre o Rio das Mortes e a Serra de São José. Minha alma de guia turístico acaba puxando conversa com a família norte-americana e passo alguns dados.
Explico também que viajamos em uma bitola de 76 cm, a mais estreita do Brasil, e que nossa locomotiva 41 foi fabricada em 1912 nos Estados Unidos pela empresa Baldwin Locomotive Works da Filadélfia. Relato também que o trecho de 12 km no qual viajamos é o único que sobrou de uma longa linha férrea inaugurada em 1881. Os estrangeiros agradecem e me oferecem, em troca, um chocolate mineiro.
Segundo os que tentam preservar a história ferroviária brasileira, teriam existido até pouco tempo 18 locomotivas com a“bitolinha”de 76 cm, todas fabricadas pela mesma Baldwin entre 1880 e 1919. Muitas delas ainda estão no Museu Ferroviário, mas não funcionam; poucas (como a 41, a 42 e a 68) continuam em operação. Outras viraram sucata. A Baldwin chegou a ser a maior fabricante mundial de locomotivas e teria produzido mais de 70 mil máquinas entre 1832 e 1956. Com a mudança de tecnologia, a empresa faliu em 1972. Fim de linha. Para nós também: chegamos a São João del-Rei.
* Possui três paixões: contar estórias com fotos e crônicas, estar na natureza e viajar intensamente. Criou o conceito de Viajologia, que reconhece a viagem como uma escola dinâmica.
Fonte - STEFZS  24/07/2014

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