domingo, 4 de maio de 2014

Linha férrea desativada deixa herança de abandono

Ferrovias

A área pertence ao Grupo Votorantim e no local não há mais a circulação de trens

Jornal Cruzeiro do Sul
Por Sabrina Souza

Os bondes que levavam os trabalhadores às fábricas do Grupo Votorantim não passam mais pela linha de trem que liga a estação Paula Souza ao município de Votorantim, cortando bairros da zona leste de Sorocaba. Os vagões de carga da América Latina Logística (ALL) também não cruzam mais os 13 quilômetros de trilhos. Três anos depois da desativação do ramal, o cenário agora é outro: mato alto e acúmulo de lixo que servem de abrigo para moradores de rua, usuários de drogas e criminosos. Apesar do programa periódico de limpeza e manutenção da área, que o Grupo Votorantim alega realizar, e da fiscalização prevista pela Prefeitura, a herança que ficou aos moradores da Vila Assis, Barcelona e Parada do Alto é de abandono. Além disso, empresa e administração municipal não possuem planos concretos do que fazer com a linha férrea, que embora tenha contribuído com o desenvolvimento da região no passado, hoje se caracteriza como um problema de saúde pública e segurança.
Como fica em um terreno particular, a limpeza e manutenção da área da linha férrea é de obrigação de seu proprietário, o Grupo Votorantim. Cabe à administração municipal, no entanto, fiscalizar a atividade. Realizada mensalmente, como informa a empresa, e com priorização dos pontos críticos, as vistorias parecem não estarem sendo suficientes para garantir a limpeza do local. Em alguns pontos, como na rua Cervantes, o mato chega a mais de 1,5 metro de altura - ambiente favorável à proliferação de insetos, ratos e bichos peçonhentos. Moradora da Vila Assis, a faxineira Aparecida Soares lembra que chegou a encontrar escorpiões em sua casa. "Isso sem contar a água acumulada, que pode servir de criadouro para o mosquito da dengue", alerta.
Ao longo da linha é possível encontrar de tudo: lixo doméstico, móveis e restos de construção. Apesar da proibição do depósito de lixo e entulho ao longo da linha de trem, reforçada por placas instaladas no local, a prática é comum e facilitada pelo estado de abandono em que se encontra a região. É o que acredita o pedreiro João Marques de Lima. "Os próprios moradores sujam, mas vem gente de todo o lugar jogar entulho aqui", afirma ele, para quem é necessária uma intensificação da manutenção. "Pelo menos nesse trecho, a limpeza é rara e o mato cresce mais rápido do que eles limpam", cita. Mato alto que serve como esconderijo para ações ilegais, como a venda e o uso de drogas. "Em plena luz do dia, o tráfico acontece com frequência por aqui", completa o morador.
O trecho já chegou a ser caracterizado, inclusive, como uma das dez "minicracolândias" de Sorocaba, como noticiado pelo Jornal Cruzeiro do Sul em outubro do ano passado. E a presença de usuários de drogas assusta quem precisa passar pelo local, principalmente a noite. É o caso da camareira Eunice Smith, que diariamente utiliza o ponto de ônibus às margens dos trilhos por volta das 22 horas. "É um risco que quem mora aqui corre todos os dias. Acabamos ficando reféns dessa situação", lamenta. A moradora da Vila Assis relata que a irmã chegou a ser assaltada no mesmo ponto de ônibus, no começo do ano. "Ela estava passando a noite, puxaram ela pelo colar e levaram o celular", diz. Alguns metros a frente desse ponto de ônibus, próximo a uma praça na rua Doutor Moreira Sales, há uma passagem embaixo da linha férrea que, segundo relatos dos moradores, serviria de abrigo para traficantes.

Limpeza e fiscalização
A fiscalização referente à limpeza do trecho deve ocorrer nas próximas semanas. Pelo menos é o que garante a Área de Fiscalização da Prefeitura, que estaria agora finalizando as vistorias nas demais extensões da linha férrea, que pertence à ALL - processo que está em fase de finalização, conforme informou o setor. A administração municipal justifica a demora nas inspeções devido à sua complexidade, já que demanda medições individualizadas de cada trecho de linha férrea em situação irregular. A Prefeitura reforça ainda que o Grupo Votorantim vem realizado a manutenção do trecho de sua propriedade, em resposta à intimação sistemática que vêm sofrendo desde 2010.

Sem planos de uso
Mesmo com a promessa de uso do ramal para o transporte de passageiros, feita desde 2012 pelo então candidato e hoje prefeito Antônio Carlos Pannunzio (PSDB), a Prefeitura deixou de responder, através do setor de imprensa, se há ou não planos de realizar parcerias com o Grupo Votorantim para dar uma destinação à linha férrea desativada e seu entorno, ou se há um prazo para que isso ocorra. Sobre esse mesmo ponto, a empresa proprietária da linha, por sua vez, se limitou a dizer que está "estudando as possibilidades existentes" e também não deu detalhes do futuro do ramal. (Supervisão: Helena Gozzano)
Fonte - STEFZS  04/05/2014

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