segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Falta de investimento degrada a rede ferroviária portuguesa

Internacional

Estado das linhas provoca um
desgaste anormal no material circulante
da 
CP Adrian Miranda
Linhas férreas sentem a falta de dinheiro para manutenção e investimento. Linhas de Sintra, Cascais, Douro, Beira Alta, ramal de Alfarelos e alguns trechos da Linha do Norte são as mais necessitadas 

Carlos Cipriano
Com os trens acontece o mesmo que com os automóveis. Se as estradas não são boas, afetam  a suspensão, os pneus e as rodas dos veículos. No caso do material rodante ferroviário, são essencialmente as rodas dos truques que sofrem os efeitos das linhas em mau estado, o que aumenta os custos de manutenção, e numero de trens e autocarros fora de serviço.
Há outras consequências mais visíveis,claro: os trens atrasam porque a a Refer  impõe limites de velocidades em determinados trechos,devido a manutenção precária deixando os trilhos em mau estado,gerando queixas dos passageiros pelo desconforto quando as carros sacolejam e abanam ao passarem nas linhas que precisam urgente de manutenção. Recentemente, um passageiro foi surpreendido ao ver seu laptop cair da mesinha no chão do carro, devido aos solavancos da composição. E não é raro garrafas, latas, malas ou livros irem também parar ao chão. Que o digam os passageiros dos Alfas Pendulares e dos Intercidades quando atravessam o trecho Ovar-Gaia, na Linha do Norte.
Para a CP, os primeiros sinais de alarme surgiram na Linha de Sintra quando se constatou um desgaste anormal nas rodas (truques) dos trens. Rodas que deveriam ser reperfiladas aos 800 mil quilômetros precisaram ir para torno para correção aos 100 mil, devido o mau estado em que se encontravam.
Técnicos da CP dizem que na linha de Sintra é visível a olho nu o "desgaste ondulatório" nos trilhos - ou seja, a superfície de rolamento do trilho, que deveria ser lisa, acusa pequenas ondulações.
Contudo, nada disto compromete, para já, a segurança. Mas os custos de manutenção dos trens suburbanos que ali circulam aumentam  excessivamente.
Do mesmo se queixam os espanhóis que fazem a manutenção das autocarros que circulam na Linha do Douro. Estes veículos foram alugados pela Renfe à CP, mas fazem a "revisão" na Espanha. Nos últimos tempos, também este material tem acusado problemas graves de desgaste das rodas (truques),em níveis considerados "extremamente anormais", segundo um alto funcionário da CP.
A Linha do Douro é uma das que ficou à margem de qualquer programa de modernização nas últimas décadas e recorrentemente fala-se em desativar o trecho entre Régua e Pocinho. Nos últimos meses, a Refer suspendeu a compra de todos os materiais de via para a manutenção desta linha, incluindo dormentes de madeira. Entre Pinhão e Pocinho, os trilhos são assentados somente em material deste tipo.
O ramal de Alfarelos é um dos trechos em pior estado da rede portuguesa. Nele circulam os suburbanos entre Coimbra e Figueira da Foz, que sofrem por vezes atrasos de meia hora em viagens que deveriam ser de 50 minutos. Uma situação que  já levou  à criação de uma comissão de usuários para exigir a modernização daquele trecho.
Os problemas na infra-estrutura ferroviária abrangem não só as linhas que nunca foram modernizadas e que têm sistemas de exploração idênticos aos do princípio do séc. XIX, como também aquelas que estão dotadas de padrões de qualidade acima da média europeia, mas quais a Refer não tem conseguido atender para as manter 100% operacionais.
É o caso da Beira Alta (ver PÚBLICO de 1/10/2013), onde há secções de via que necessitam de substituição de trilhos e dormentes. Mas os problemas maiores são nos sistemas de drenagem laterais que exigem manutenção qualificada para evitar alagamentos.
Também aqui a segurança não está posta em causa, pois a gestora da infra-estrutura estabelece limitações de velocidade aos trens nos trechos que estão precisando de intervenção. No caso da Beira Alta, são tantos que passou a ser habitual os trens chegarem atrasados à Guarda.
As queixas da CP relativas à infra-estrutura não correspondem, porém, existe uma acentuada redução dos custos de manutenção por parte da Refer. O PÚBLICO pediu a esta última a evolução destes custos entre 2008 e 2013, sendo estes relativamente estáveis, rondando os 57 milhões de euros anuais.
A Refer, pelo visto, faz o seu trabalho. O problema, de acordo com uma fonte oficial desta empresa, é a falta de investimento na modernização da rede, pois há linhas em que mantendo-se o mesmos níveies de manutenção já não são suficientes para assegurar o padrão de qualidade do serviço. A solução passa por intervenções mais profundas que contemplem obras de modernização, coisa que, de momento, é impossível na Refer devido às limitações nos seus investimentos.
A ausência de diálogo entre as duas empresas também não ajuda. Historicamente os presidentes destas duas empresas não se dão muito bem. Tem havido exceções, mas não é o caso dos atuais administradores da Refer, Rui Loureiro, e da CP, Manuel Queiró.
Adaptação do texto - A.Luis
Fonte - Público Portugal  21/10/2013

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