quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Estação Aquidabã é a porteira do caos

Cidade

Carlos Vianna Junior
Tribuna da Bahia

Não pode ficar pior. Banheiros quebrados sendo utilizados como depósito de lixo. Ao seu redor, e até sobre suas lajes, dependentes de crack fazem uso da droga e aliviam suas necessidades fisiológicas, mesmo à luz do dia. Boxes desativados, que já foram ocupados por restaurante, casa lotérica, lanchonetes e até agência dos Correios, têm vidros quebrados, paredes imundas e pichadas. No chão, muitos buracos e o branco das pedras portuguesas foi ocultado por uma camada escura de sujeira. Para piorar a situação, segundo permissionários que ainda mantêm seus negócios no local, a limpeza que era feita com carros-pipa não ocorre há pelo menos 15 dias. Para eles, a Estação Aquidabã chegou ao fim da linha.
Para concordar com eles não precisa nem mesmo adentrar a área da estação. De longe, e até passando de carro, se sente o mau cheiro. A paisagem, mesmo à distância, chama a atenção pela sujeira e abandono. Até as palmeiras que enfeitavam o ambiente expressam o estado de conservação: duas delas estão mortas. Os permissionários dizem que a situação piorou muito com a chegada dos usuários de crack, expulsos da Rua do Gravata, ligação da Baixa dos Sapateiros com a Av. Joana Angélica, onde o policiamento foi reforçado.
Segundo José Gonçalves da Silva, proprietário há mais de 20 anos da Tropical Lanches, os “sacizeiros”, como são conhecidos os usuários de crack, são o retrato da decadência do local. “Lembro-me de um tempo em que o Aquidabã era frequentado por senhores aposentados bem trajados, por trabalhadores e estudantes. Agora as pessoas têm medo e até nojo de frequentar a estação”, conta.
Não são só as pessoas que se recusam a entrar na estação, os ônibus também. O transbordo é realizado na parte externa, na Avenida Castelo Branco. A área da estação, único espaço público da região capaz de oferecer um ambiente de convívio e relaxamento para trabalhadores, estudantes e moradores, segue oferecendo algum serviço graças à insistência dos permissionários.
Proprietários de lanchonetes, uma farmácia e uma banca de revista, apesar de pagarem cerca de R$ 50 por metro quadrado de aluguel, sem contar o condomínio, que beira os R$ 50, assistem impotentes os seus empreendimentos minguarem com o passar do tempo.
Valdomiro Santos da Silva, há 20 anos à frente da lanchonete Lanche Pronto, conta que seu rendimento caiu cerca de 95% nos últimos anos. Ele diz que nos bons tempos, a lanchonete, chegou a ter dois funcionários. “Agora trabalho sozinho e mesmo assim estou com o aluguel atrasado”. O horário de funcionamento da lanchonete também reflete a progressiva decadência do local. “Durante um tempo funcionávamos 24 horas, depois passamos a fechar às 21 horas e atualmente não passo das 16 horas”, conta.
A hora que Valdomiro fecha seu estabelecimento é o momento do dia em que os “habitantes da estação”, os mendigos e “sacizeiros”, começam a chegar e transformá-la em uma verdadeira “estação de zumbis” que circulam sem destino. O proprietário da Farmácia Belém, Hostílio Filho, sustenta as portas de seu estabelecimento abertas por mais uma hora, três horas a menos que o horário que usualmente fechava. Ele conta que a perseverança dele e dos outros permissionários está chegando ao fim. “Todos nós pensamos em desistir, mas por se tratar de uma área tão central, estamos sempre pensando que os governantes farão alguma coisa”, salienta.
Copa traz esperança de recuperação
Os operários trabalhando e a placa do Governo do Estado informando sobre as obras de revitalização da Baixa dos Sapateiros, colocada na esquina da Estação Aquidabã, parecem ironizar a situação dos permissionários. Não, a obra não alcança a estação. O fato de estar a cerca de um quilômetro de um dos palcos do maior evento futebolístico do mundo, a Arena Fonte Nova, também alimentou a esperança dos permissionários. Também em vão. Não há nenhum projeto relacionado à Copa do Mundo de 2014 que inclua a decadente estação.
A informação foi dada pelo diretor de transporte da Transalvador, Eládio Gomes. Ele, no entanto, afirma que existem planos de recuperação da estação, mas não devem ser postos em prática em curto prazo. Ele reconhece a urgência de uma reforma no local e se compromete em realizá-la o quanto antes, mas admite que nos próximos meses, tanto a superintendência quanto a Secretaria Municipal de Transportes estarão focadas na transferência da gestão de algumas estações de transbordo do âmbito municipal para o estadual.
Segundo ele, esse processo, que terminará no dia 11 de novembro, é um dos motivos que impedem a imediata solução dos problemas da Estação Aquidabã. Naquela data, quatro estações passarão para o estado: Mussurunga, Pirajá, Iguatemi e Rodoviária. “Depois desse processo, começaremos a reformar aquelas que continuam com a Prefeitura, incluindo Aquidabã”, afirma.
Problema Social
O gerente de Equipamentos Urbanos da Transalvador, Maurício Lima, explica que a manutenção da estação tem sido dificultada pela presença dos usuários de crack. “Temos uma parceria com a Guarda Municipal, que além de fazer o trabalho de segurança da praça, nos apoiava na realização dos serviços de limpeza, mas a situação não é mais controlável através da Guarda Municipal, se transformou em um problema da Polícia Militar”.
De acordo com Lima, a Transalvador estava preparada para consertar os banheiros da estação, sem condição de uso há mais de um ano, segundo permissionários, mas com o problema dos usuários de crack, a obra se tornou inviável, até o momento. Eládio Gomes acrescenta que para pensar o projeto de requalificação será necessário trabalhar em conjunto com outras secretarias envolvidas com questões sociais e de saúde. Segundo o diretor de transporte, o orçamento para a requalificação já está praticamente garantido, mas ele não apresenta prazo para o início das obras.
Fonte  - Tribuna da Bahia  30/10/2013

Um comentário:

  1. Estas estações tem um alto custo de manutenção e operacional ( vide Est.da Lapa - Est. Pirajá) além do custo da sua construção.Elas são usadas unicamente para garantir o direito de passagem ( integração fechada) dos usuários entre linhas existentes.Os sistemas modernos de transportes que operam no mundo com integração FÍSICA E TARIFÁRIA UNICA e bilhetagem eletrônica cobrado por tempo de permanência no sistema ( por hora) eliminam a necessidade dessas estações sendo substituídos por terminais mais simples (modelos tipo,o terminal da rua Chile,T da França,Barroquinha) providos com dispositivos eletrônicos de informação aos usuários,bem como mapas de toda a rede de transportes local, com custos operacionais e de manutenção muito menores desonerando inclusive o custo do transporte.Com a implantação da tarifa integrada única com bilhetagem eletrônica torna-se desnecessário o uso de estações de grande porte exclusivamente para ônibus.Os terminais de ônibus devem ter como finalidade única e precípua o atendimento ao embarque e desembarque de passageiros,com segurança e acessibilidade garantidas,locais onde os mesmos devem permanecer o tempo mínimo possível. A estação do Arquidabã é subutilizada atualmente como terminal de ônibus acarretando despesas operacionais e de manutenção para a Prefeitura deveria ser transformada em um "centro de comercio popular"com infraestrutura adequada,que passaria a gerar receita, para onde seriam transferidos os trabalhadores que atuam no comercio informal em toda a extensão da via, arredores e outros locais do centro da cidade,além da instalação de postos de atendimento de serviços públicos diversos.

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