segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Transporte público na Suíça enfrenta desafios‏


A Companhia Suíça de Trens não apenas opera a mais densa rede de tráfego do mundo, mas também coordena trens com outros fins que apenas o de transporte pessoal. O resultado é que a popularidade do sistema faz com que ele chegue aos seus limites.
O governo tem promovido o uso do transporte público, e com amplo apoio popular. Como resultado, mais de dois milhões de pessoas - um quarto da população - detém um passe-livre que dá direito a 50% de redução nas viagens. O slogan da empresa "Os que têm cérebro pegam o trem" não se tornou apenas popular no país, mas muitos também seguiram essa dica.
Em 2010 cada habitante do país viajou o equivalente a 2.873 quilômetros em transportes públicos, um aumento de quarenta por cento desde a virada do século. O número médio de viagens anuais subiu em 30 por cento, atingindo a marca de 225 por pessoa, de acordo com a Associação do Transporte Público.
Porém manter esse eficaz sistema custa fortunas aos cofres públicos. O Parlamento aprovou subvenções da ordem de 9,5 bilhões de francos (US$ 10,2 bilhões) para a manutenção da rede nos próximos quatro anos. Em média, no ano de 2010, os suíços gastam dez por cento do seu orçamento familiar em mobilidade, como demonstrou uma pesquisa oficial.
O número de passageiros deve aumentar ainda mais. O governo prevê um crescimento de 60% no tráfego de passageiros e 70% no transporte de mercadorias até 2030. De acordo com a ministra suíça dos Transportes, Doris Leuthard, a expansão da infraestrutura será um dos principais desafios enfrentados pelo país nos próximos quarenta anos.
"Teremos de encontrar soluções para a nossa crescente mobilidade", declarou Leuthard aos participantes de um encontro recente sobre infraestrutura. "Não apenas temos de questionar se estamos dando os incentivos corretos, investindo nas áreas certas, mas nossas políticas precisam ser aceitas pelos políticos e o povo", afirmou a ministra.
Para lidar com as limitações de capacidade e expansões de rede, a Suíça construirá novas linhas, desvios e túneis. O governo também está trabalhando em melhoras na utilização das redes, trazendo de volta às estradas uma parte do tráfego e desenvolvendo novos esquemas de tarifação. Todos esses elementos serão necessários, junto com novas ideias e modelos, declarou Leuthard.
Uma solução simples para nivelar os picos de tráfego nas horas de rush - proposta pelos iniciadores do projeto Mobilidade Urbana Futura - é, por exemplo, promover o trabalho à distância um dia por semana, uma proposta que poderia diminuir as taxas de uso a níveis semelhantes aos dos dias mais tranquilos no verão.
Incentivos incorretos
Mas a implementação muitas vezes não é tão simples. A Companhia Suíça de Trens financia uma pesquisa realizada na Universidade de St. Gallen para estudar as mudanças nos hábitos do consumidor. Dentre outros, os especialistas estão investigando como as políticas de tarifas podem ser utilizadas para influenciar no fluxo de clientes, explica o chefe do projeto, Christian Laesser.
"Já faz anos que a mobilidade está sendo promovida através de falsos incentivos. Agora o sistema se tornou inviável e nos deslocamos com demasiada frequência e longe demais", diz Laesser, acrescentando que "hoje não é mais uma questão saber se as pessoas que se deslocam terão de contribuir mais para cobrir os custos, mas sim como elas podem contribuir mais e com que sistema."
Mas qualquer mudança nos padrões de mobilidade também afeta a vida das pessoas, pois a política de transportes está ligada historicamente às políticas social e ambiental, como alerta Laesser. Como resultado, modificar uma parte do sistema pode causar um efeito cascata, afetando os preços no mercado imobiliários e disponibilidades de trabalho, como explica Laesser.
De acordo com ele, no entanto, entende-se que os custos de mobilidade devem se tornar mais transparentes e, um pouco mais, mas não inteiramente, causais. Hoje em dia, aproximadamente metade das tarifas é subsidiada pelos cofres públicos.
Os investimentos em infraestrutura são financiados através da cobrança de serviços e impostos como taxas sobre valor agregado, a taxa aplicada a veículos pesados ou empréstimos do Tesouro. Projetos de longo termo de alto custo, como novos túneis nas rotas alpinas de trânsito, conexões à rede europeia de alta velocidade e redução de ruídos, deverão custar aproximadamente 30 bilhões de francos (US$ 32,6 bilhões).
Ato de equilíbrio
"É um ato de equilíbrio: você não quer terminar com estruturas que não sejam financiáveis no futuro", retruca Markus Giger, responsável pelo tráfego ferroviário no Departamento Federal de Transportes. "Todo investimento inicial tem custos consequentes e qualquer expansão de rede será mais custosa para operar e manter."
E é precisamente essa rede ramificada junto com um horário regular de intervalos, preços acessíveis de bilhetes ferroviários e a existência de um bilhete único que permite a viagem com diferentes operadoras, que torna o sistema tão popular, explica Andreas Theiler, do grupo lobista Pro Bahn Schweiz.
"Para resumir: nosso grupo, cuja função é de criticar a qualidade do transporte público na Suíça, atualmente está quase supérfluo", diz Theiler. "Estamos reclamando em alto nível."
As principais objeções são a redução de serviços, o fechamento das linhas de trens não rentáveis e aumento de tarifas. Neste ano, elas devem sofrer um aumento médio de 5,6%. O preço de um passe-livre em primeira classe deve aumentar em 8,4%, passando a custar 5.800 francos suíços.
A "Pro Bahn" compreende as preocupações dos passageiros pendulares, mas ao mesmo tempo ressalta que esses cartões anuais, que não cobrem os custos provocados pelos usuários, canibalizam as tarifas comuns. O cartão de meia-passagem custa dez vezes menos do que deveria, acredita Theiler.
Pouca aceitação
De qualquer forma, os aumentos propostos nas tarifas são apenas uma amostra do que está por vir. Após anos de promoção do uso desse meio de transporte ecológico, hoje existem cada vez mais defensores do principio de custos e causa.
"Os consumidores serão obrigados pagar preços mais elevados no futuro", afirma Giger. Apesar de todas as discussões sobre mudanças nos sistemas de pagamento terem sido polêmicas no passado, os especialistas consideram que o sistema de passe-livre nos trens estão com seus dias contados, pelo menos no formato atual.
"Olhe o lado positivo: se não existem mais esses passe-livres, o uso geral deve cair", calcula Theiler. "Nesse cenário, pelo menos não seria mais necessário se preocupar com a sobrecarga dos serviços."
Swissinfo - Chantal Britt – 09/12/2012

Fonte - São Paulo Trem Jeito via e-mail   09/12/2012

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