quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Ficava gelada quando ouvia o apito do TREM', recorda idosa sobre FERROVIA...


Às margens do Rio Mamoré, trilhos da Madeira-Mamoré estão se acabando. No distrito de Iata, idosos contam suas memórias sobre o trem.

G1 – Rosiane Vargas – 30/11/2012
Parte da centenária Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, localizada no pacato distrito do Iata, distante cerca de 30 quilômetros de Guajará-Mirim (RO), está esquecida no meio do mato. Pioneiros da região, que viram o trem funcionar e andaram na locomotiva, lamentam a situação de abandono em que se encontra a ferrovia e relembram momentos que fizeram parte de suas vidas.
A gente ficava toda gelada quando ouvia o apito do trem. Lá vem o trem. Ai todo mundo se assanhava e pegava suas coisinhas para entrar no trem”, relembra com emoção Maria Furtado de Lima, de 76 anos, que mora em frente ao prédio onde funcionava a estação ferroviária, até meados de 1972, quando a Madeira-Mamoré foi desativada pelo governo federal.
O distrito, conta dona Maria, não lembra em nada a época da ferrovia. “Vinha muita gente para pegar o trem no Iata. Me lembro das pessoas carregando as coisas para vender na feira.
“Era um tempo animado aquele. Pelo menos para mim foi”, confirma Afonso de Lemos, de 86 anos, que trabalhou como bombeiro, abastecendo o trem durante 10 anos. “Se voltasse a funcionar, seria muito bom para carregar essa juventude que nunca ouviu o apito do trem. Se voltasse era bom”, diz, com lagrimas nos olhos, o ex-bombeiro.
Ao falar da experiência de bombeiro da locomotiva, Lemos conta que o trem fazia duas viagens por semana e carregava, principalmente, borracha e castanha. “Naquele tempo era tudo ‘demoroso’. O trem partia às 7 horas de Porto Velho, parava às 17 horas em Abunã, pernoitava e saia 7 horas do outro dia, chegando às 14 horas em Guajará-Mirim”, relata.
José Raimundo de Oliveira, 65 anos, passa de bicicleta ao lado dos trilhos todos os dias e sempre lembra do tempo em que eles eram úteis. “Ta tudo desmanchado, o garimpo destruiu muito. Os trilhos estão se acabando, pedacinhos por pedacinhos estão se acabado”, reclama com tristeza.
As margens do Rio Mamoré, onde cachoeiras formam uma divisão natural de pedras no centro do rio, passam os trilhos da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Divisa com a Bolívia, o local, se restaurado, poderia se tornar um dos maiores atrativos turísticos da região, segundo o comerciante José Messias Rodrigues da Silva, 65 anos, que possui um restaurante ao lado dos trilhos da ferrovia.
“Isso é uma relíquia para a nossa comunidade. O governo poderia reativar a estrada para o turismo, pelo menos entre o Iata e o Abunã. Chamaria muitos turistas para nossa região”, acredita Messias.
Assim como os trilhos, a antiga estação ferroviária também está entregue ao tempo. “A cumeeira [sustento do telhado] da casa se quebrou. As telhas caíram e ai foi se acabando de vez”, conta Maria Furtado. Atualmente, segundo Maria, o que resta da estrutura do prédio, serve apenas de abrigo de abelhas e morcegos.
Em estudo
Está em estudo, segundo o governo do estado, a reativação de cerca de 10 quilômetros de trilhos, entre Guajará-Mirim e a localidade Praia do Acácio. Por enquanto, segundo o governo, não há projeto para o distrito do Iata.
O trecho da ferrovia no município de Guajará-Mirim não é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Apenas oito quilômetros em Porto Velho, entre a praça e a igreja de Santo Antônio, o pátio ferroviário e as caixas d'água são tombados pelo Iphan.

Fonte - São Paulo Trem Jeito  05/12/2012

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